O cenário da pandemia do novo coronavírus segue grave no Brasil após o País atingir dois novos marcos recentes: 1 milhão de casos e 50 mil mortes. Nesta segunda-feira (22), o total de óbitos chegou a 51.271, de acordo com levantamento divulgado pelo Conass (Conselho Nacional dos Secretários de Saúde), com dados compilados até às 18h. São 663 a mais em 24 horas.
O total de casos confirmados é de 1.106.40, com 21.597 a mais em relação ao balanço de domingo (21). Quanto às vítimas fatais, em números absolutos, o estado de São Paulo lidera o ranking, com 12.634 mortes, seguido pelo Rio de Janeiro (8.933), Ceará (5.604), Pará (4.605) e Pernambuco (4.252).
O Brasil é o segundo país com mais mortes causadas pela covid-19, de acordo com o mapeamento do Centro de Recursos de Coronavírus da Universidade Johns Hopkins. No início de junho, o Brasil ocupava o quarto lugar no ranking mundial. Ao longo do mês, ultrapassou Itália e Rússia.
Quanto aos diagnósticos na comparação internacional, o Brasil é o segundo país com mais casos confirmados de contaminação, atrás apenas dos Estados Unidos, que conta com cerca de 2,2 milhões de casos, segundo o controle da Johns Hopkins.
A diferença das taxas de testagem entre os dois países – 37.188 testes por milhão de habitantes nos EUA e 8.737 por milhão de habitantes no Brasil – é uma evidência da subnotificação da crise sanitária no cenário brasileiro.
O novo coronavírus já causou mais de 469 mil óbitos no mundo. São mais de 9 milhões de casos confirmados, de acordo com dados atualizados nesta segunda.
Platô em vez de pico: A evolução da pandemia no Brasil
Os gráficos epidemiológicos brasileiros nas últimas semanas assumem aos poucos a forma de platô, em vez de um pico de casos e mortes. Na última quinta-feira (18), integrantes do Ministério da Saúde afirmaram que há uma tendência de estabilização da pandemia. “Precisamos confirmar se tendência permanece com o passar dos próximos 15 dias, mas já conseguimos perceber que estamos talvez entrando efetivamente em um platô de novos casos”, afirmou em coletiva de imprensa o secretário de vigilância em saúde, Arnaldo Correia de Medeiros.
A pasta publicou portaria nesta sexta com orientações para retomada das atividades. O documento não inclui critérios como ocupação dos hospitais ou situação epidemiológica para decidir flexibilização do isolamento.
Apesar da possível tendência de desaceleração, isso não significa que a situação esteja sob controle, uma vez que os números continuam altos.
Relatório do InfoGripe publicado na última sexta-feira (19) com dados da semana de 7 a 13 de junho mostra que todas as regiões do país apresentaram números de casos e de mortes muito altos de pessoas internadas com Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) confirmadas com covid-19.
Na região Norte, há sinal de possível estabilização, mas os níveis de casos são considerados muito altos. No Sudeste, foi observada oscilação. No Nordeste, também estava alta a ocorrência, mas havia manutenção da queda sustentada iniciar aa partir da segunda quinzena de maio.
No Centro-Oeste, os pesquisadores apontam tendência de crescimento com possível desaceleração em junho e ocorrência muito alta. No Sul, a ocorrência também é muito alta e se manteve a tendência de crescimento.
Houve um agravamento acelerado da crise sanitária no País nos últimos meses. O marco de mais de 10 mil mortes foi atingido em 9 de maio. Em 21 de maio, o total dobrou e ultrapassou 20 mil óbitos. Em 2 de junho, as vítimas fatais da pandemia superaram o patamar de 30 mil.
A confirmação de mais de mil mortes de um dia para o outro já ocorreu 19 vezes. A primeira foi em 19 de maio, quando foram confirmados 1.170 óbitos.
A data também foi um marco na evolução diária da pandemia quando comparada a outros países. Superou o total de 919 mortes confirmadas de um dia para o outro no fim de março na Itália.
Na semana seguinte, em 25 de maio, o Brasil ultrapassou os Estados Unidos no registro diário de mortes: 807 novos óbitos confirmados pelo Ministério da Saúde no mesmo dia em que o Centro de Prevenção e Controle de Doenças (CDC) americano incluiu 620 mortes no balanço oficial.
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde nesta quinta, são 4.655 casos por milhão de habitantes no País e 227 óbitos por milhão de habitantes. Ao analisar os óbitos por dada da ocorrência, o recorde foi em 14 de maio, com 822.
Boletim epidemiológico divulgado na última quinta pelo ministério mostra uma interiorização da pandemia. Na região Norte, na semana epidemiológica entre 12 e 18 de abril, 77% dos casos eram na capital e 23% no interior. Na semana de 7 a 13 de junho, eram 44% na capital e 56% no interior.
Segundo o levantamento, 4.590 municípios (82,4) registraram casos do novo coronavírus e 2.165 tiveram óbitos.
Das 265.578 hospitalizações por síndrome respiratória aguarda agrave (SRAG) até o momento, 105.869 foram confirmadas pra covid-19, 65.472 estão em investigação, 85.441 causados por agente não especificado e o restante outros patógenos. Do total de internados, 68% estava acima 50 anos.
No mesmo período, foram registrados 64.247 óbitos por SRAG, sendo 39.417 confirmados para covid-19, 4.056 em investigação, 20.163 causados por agente não especificado e o restante outros patógenos. Das vítimas fatais do novo coronavírus, 71% estava acima 60 anos e 60% apresentam pelo menos um fator de risco.
Ministério da Saúde dificulta análise
Desde o início deste mês, houve uma série de idas e vindas na forma de divulgação dos boletins epidemiológicos do Ministério da Saúde. Após atrasar o horário de envio dos dados, a pasta deixou de informar o acumulado de mortes e diagnósticos em 5 de junho. No mesmo dia, a imagem informava apenas os casos e óbitos confirmados nas últimas 24 horas, sem o acumulado. O total de diagnósticos e de mortes também deixou de estar disponível no site covid.saude.gov.br. Foi ainda anunciada uma mudança na metodologia.
Até 4 de junho, o Ministério da Saúde enviava aos jornalistas, por meio de uma rede de transmissão via WhatsApp, um boletim com o total de casos e de óbitos confirmados nas últimas 24 horas, assim como o acumulado dos dois dados.
Faz mais de uma semana que o Ministério da Saúde informou que adotaria uma nova metodologia, com boletins diários de óbitos ocorridos nas últimas 24 horas e não confirmados. Na prática, ela inviabiliza uma comparação com os dados anteriores, dificultando a compreensão da evolução da pandemia no Brasil. Ela também atrapalha a comparação dos números com outros países, por adotar critérios distintos do resto do mundo.
Há uma atraso entre o dia em que a morte ocorreu e o dia em que essa informação foi confirmada em laboratório que pode ser superior a um mês. Por esse motivo, para fins de entender a curva epidemiológica e viabilizar comparações, os países têm disponibilizado os dados dos óbitos por data de confirmação.
Com a mudança de critério pelo governo federal, as “novas mortes” serão menores. Na prática, a medida também evita notícias negativas sobre recordes de óbitos diários. Integrantes do governo de Jair Bolsonaro, especialmente a ala militar, têm criticado esse tipo de cobertura jornalística.
Na mesma linha, a Secom (Secretaria de Comunicação Social) criou o “Placar da Vida”, publicado diariamente nas redes sociais da Presidência. A publicação omite as mortes e destaca o número de recuperados.
Os integrantes do Ministério da Saúde não explicaram o motivo de adotar uma metodologia que causará esse tipo de prejuízo. Só é possível continuar comparando o total de óbitos se o ministério atualizar progressivamente as informações de mortes que tiverem a confirmação laboratorial após a data do óbito.
Em reunião ministerial com o presidente, o ministro interino da Saúde, general Eduardo Pazuello, disse que será feita atualização retroativa. “Quando você bota no cálculo diário você vê que é acumulado nos dias de registro. O que eu coloco como proposta é que a gente use os mesmos números, mas nos dias do óbito (…) e vai corrigindo os anteriores aí você passa a observar exatamente a curva”, afirmou.
Em 7 de junho, o ministério também deixou de enviar aos jornalistas pela rede de transmissão via WhatsApp o boletim no formato anterior. Essa transmissão só foi retomada dois dias depois, após decisão do STF (Supremo Tribunal Federal).
Em 12 de junho entrou no ar a nova plataforma anunciada pelo governo federal. Os óbitos estavam contabilizados por data da notificação.
Subnotificação da pandemia
Além da falta de transparência, a subnotificação também prejudica uma compreensão real do cenário da crise sanitária no País. Como o HuffPost vem noticiando, a lentidão no processamento de testes laboratoriais, que detectam tanto a causa da morte quanto se a pessoa foi contaminada, leva a um atraso nos dados oficiais.
Há uma subnotificação de casos confirmados ainda maior devido à limitação de testes de diagnóstico. O exame tem sido direcionado apenas aos casos graves. A baixa testagem é um dos entraves apontados por sanitaristas para a flexibilização do isolamento social.
Segundo balanço apresentado em 4 de junho, 1.085.891 exames do tipo moleculares RT-PCR foram realizados, sendo 556.094 processados em laboratórios públicos e 529.797 na rede particular. Na rede pública, 74,1% são analisados em até 5 dias, de acordo com o ministério.
O levantamento inclui ainda outros 748.916 testes rápidos, que identificam se a pessoa tem anticorpos para o novo coronavírus. Os testes moleculares informam se a pessoa está infectada naquele momento.
Fonte: HuffPost Brasil