Uma polêmica policial: a reviravolta no caso da adolescente Tayná Adriane da Silva, que foi morta no Paraná. Quatro funcionários de um parque de diversões foram inicialmente acusados de estupro e de assassinato, mas testes de DNA não comprovaram a culpa, e agora eles dizem que foram torturados para confessar.
Câmeras mostram as últimas imagens da adolescente Tayná Adriane da Silva, de 14 anos.
Ela desapareceu no dia 25 de junho, quando voltava pra casa, em Colombo, na região metropolitana de Curitiba.
Pelo celular, Tayná mandou mensagem avisando a mãe que estaria chegando em casa.
A polícia se baseou nas imagens das câmeras de segurança que ficavam em lojas no trajeto percorrido pela adolescente. E prendeu quatro homens que trabalhavam em um parque de diversões, caminho da casa dela.
Ao saber que os quatro suspeitos eram funcionários do parque, moradores de Colombo, revoltados, depredaram e queimaram os brinquedos.
Segundo a polícia, os suspeitos confessaram que pegaram Tayná quando ela passava em frente ao parque de diversões. Levaram a adolescente para um matagal, estupraram, mataram e enterraram o corpo em um terreno ao lado.
O polícia fez buscas no local, mas sem resultados. O corpo de Tayná só foi encontrado pelos moradores de Colombo três dias depois do desaparecimento dela.
Delegados que cuidavam do caso afirmavam não haver dúvidas sobre a autoria do crime.
“Nós temos um crime solucionado pela confissão deles. Não são um, ou dois confessando, são quatro meliantes confessando o estupro”, disse o delegado Silvan Rodney Pereira.
A perita que examinou o corpo de Tayná no local do crime contestou a versão da polícia. Chegou a dizer que a adolescente não havia sido vítima de violência sexual, porque estava completamente vestida quando foi encontrada.
“Isso é incompatível com violência, com embate corporal e com violência sexual”, disse a perita criminal Jussara Joeckel.
A polícia chegou a dar o caso por encerrado. Mas um exame de DNA comprovou que o sêmen encontrado no corpo da adolescente Tayná não era de nenhum dos quatro suspeitos. E esta semana, a contraprova confirmou o resultado. E a OAB denunciou a prática de tortura dos suspeitos.
“Todos eles contam a forma como eles chegaram a um ponto onde não havia mais possibilidade de aguentarem as torturas e foram obrigados a falar o que era mandado”, afirma a secretária dos direitos humanos da OAB do Paraná Isabel Kugler Medes.
Um novo delegado foi designado para cuidar das investigações sobre a morte de Tayná, que agora seguem em segredo de Justiça.
De acordo com o Ministério Público, os quatro suspeitos apontaram como torturadores dez policiais civis, um militar, um guarda municipal, um preso e um delegado. Todos identificados por fotografia.
Adriano Batista disse que ele e os outros presos sofreram choques:
“Daí o delegado estava com a maquininha de choque. Com a maquininha de choque e já chegou prensando, já queria porque queria o corpo da menina, não sei o quê”, disse Adriano Batista.
Perguntado se levou choques, ele disse: “Deu, nossa, bastante”.
Foram sufocados com saco plástico.
“Outro cara segurou assim, com o plástico assim no pescoço e outro tampou minha boca. Aí, nossa, eu pensei que ia morrer”, conta ainda Adriano.
Paulo Henrique Cunha disse que eles confessaram o crime porque não aguentavam mais apanhar.
“Quanto mais eu negava mais ele me batia. Mais ele me torturava. Dava choque, me dava tapa na cara”, diz Paulo Henrique.
O primeiro exame dos presos feito pelo Instituto Médico Legal não constatou lesões. A defesa e o Ministério Público pediram um novo exame que fica pronto na semana que vem. De acordo com o Ministério Público, não há dúvida que os presos foram torturados. O promotor pediu neste domingo (14) que os quatro fossem libertados.
“Com toda essa situação, de alegação de tortura e também algumas constatações que o próprio Ministério Público fez, os elementos que nós temos não são suficientes para iniciarmos um processo contra eles”, disse o promotor de Justiça Paulo Lima.
“Novas pessoas estão sendo ouvidas, novas diligências estão sendo feitas”, disse o secretário de Segurança Pública do Paraná Cid Vasques.
O secretário disse ainda que vai pedira a prisão temporária de todos os policiais identificados pelos suspeitos.
“Policial torturador não é policial, é delinqüente”, disse o secretário de Segurança Pública.
A mãe de Tayná teme que o assassinato da filha continue sem solução.
“Eu espero que a justiça seja feita, que não pode ficar mais um crime hediondo dessa maneira, ficar impune. Esperando que ela pudesse entrar por aquela porta, mas é uma coisa que não vai acontecer. É uma coisa que a gente sabe que não vai acontecer, que ela nunca mais vai voltar”, diz Cleusa Cadona da Silva, mãe de Tayná.
FONTE: G1