As temperaturas recordes e insegurança hídrica foram temas debatidos no “Seminário Políticas Públicas Inovadoras, Comando e Controle e Mudanças Climáticas”, organizado pelo Programa REM MT, com a presença do profissional sênior e co-fundador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Paulo Moutinho, para trocar experiências e discutir soluções estratégicas.
O seminário ocorreu nos dias 10 e 11 de outubro, no Hotel Delmond, em Cuiabá. A coordenadora do Subprograma Fortalecimento Institucional e Políticas Públicas Estruturantes (Fippe), Francieli Nascimento, cita que Mato Grosso apresentou bom resultado de fiscalização contra o desmatamento, mas há ainda muito que melhorar na mitigação das mudanças climáticas.
“Mato Grosso tem bons resultados no combate à fiscalização, nós alcançamos uma redução de 13%, conforme no último Prodes, mas ainda o desafio é muito grande, precisamos evoluir muito, para isso a gente traça novas estratégias para ter novos resultados. E a experiência de casos de sucesso de outros órgãos fora de Mato Grosso são inspirações a serem adotados aqui também. Com isso, ouvindo-os e os detalhes práticos de como ocorreram as operações, quais foram as dificuldades, o que deu certo, diminui a linha de aprendizado também do estado de Mato Grosso”, pontua Francieli.
Segundo o pesquisador sênior e co-fundador do Ipam, Paulo Moutinho, o calor extremo que o país vivenciou nos últimos meses corresponde à chegada cada vez mais próxima das mudanças climáticas.
“A mudança climática vem se acelerando, porque nós não estamos cumprindo nosso dever de casa como humanidade, que é a redução das emissões de gases de efeito estufa que aquecem o planeta, seja por queima de combustível fóssil, seja por derrubada de florestas, principalmente as florestas densas tropicais, como é o caso da amazônia. Ao não fazer isso, você tem um aumento cada vez maior de frequência e intensidade de eventos extremos, alguns deles a gente está vendo o prenúncio, principalmente neste ano, dessa seca que a gente está vivendo”, relata.
Outra situação extrema vivenciada cada vez mais é a insegurança hídrica. “O grande problema é quando você soma essa questão global da mudança do clima com o desmatamento, especialmente em florestas altas como a Amazônia, a floresta é água e carbono, se você derruba, você deixa de ter água e deixa de ter as emissões controladas”, explica o especialista.
Aliás, de acordo com Paulo, as mudanças climáticas irão influenciar o agronegócio, visto que a falta de água e chuva vão impactar diretamente na produção da agricultura e pecuária. Ou seja, a preservação vai além de uma questão ambiental, se tornando um problema econômico que os produtores precisam enxergar.
Tido como o “celeiro do mundo”, Mato Grosso tem a oportunidade de se tornar um exemplo de produção aliada à sustentabilidade. A aliança entre o agronegócio e a preservação dos biomas em Mato Grosso é uma estratégia inteligente para enfrentar as mudanças climáticas, manter a biodiversidade e garantir um futuro sustentável.
Essa abordagem exige cooperação entre o governo, a indústria agrícola, a sociedade civil e a comunidade internacional para criar um ambiente em que o crescimento econômico esteja em harmonia com a conservação ambiental.
“Estamos vendo a queda de produtividade em alguns lugares, especialmente em anos como esse, onde você tem um problema sério de além da questão da mudança que o El niño e outros grandes eventos trazem, você não consegue manter a água, porque a paisagem é desmatada. As apps estão desmatadas, então essa questão da saúde hídrica e da atmosfera é fundamental para a produção. Não existe país que vai manter a produção de alimentos se não entender agora que ele precisa conciliar as duas coisas, e quiçá a gente tenha no Mato Grosso fontes de exemplo para isso”, alerta Paulo.
Por conta da sua biodiversidade, Mato Grosso desempenha um papel fundamental na mitigação das mudanças climáticas e na conservação da biodiversidade devido à sua vasta extensão territorial e à presença de três importantes biomas: o Cerrado, a Amazônia e o Pantanal.
Paulo visualiza o trabalho do Programa REM MT como essencial na manutenção da floresta em pé. “É quase que um oráculo de boas ideias que estão sendo testadas no chão e que podem servir para algo mais global, vamos dizer assim. A tendência é que pela convenção de clima, pelo andar da carruagem em termos de risco climático, países do mundo inteiro vão poder investir em preservação de floresta e como eu disse antes, sem perder o protagonismo na produção de alimentos. Então, o REM MT dá os insights pra isso, a esperança e motivação”, reflete.
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