Empurrões, desentendimentos e ciúme excessivo. Esses foram alguns dos termos utilizados por amigos próximos para descrever o relacionamento entre Raquel Cattani e o ex-marido dela, Romero Xavier, acusado de mandar matá-la, em julho deste ano, em Nova Mutum, a 269 km de Cuiabá, por não aceitar o fim do casamento.
Pessoas próximas da vítima contaram em depoimentos à Polícia Civil, as quais o g1 teve acesso exclusivo, que Romero tinha um “ciúme doentio” e que, sempre que saíam juntos, ele ficava observando todos que chegavam perto de Raquel. Além disso, era comum que a jovem, de 26 anos, apresentasse marcas de possíveis agressões pelo corpo.
Romero Xavier, ex-marido da empresária e o irmão dele, Rodrigo Xavier, foram presos no dia 24 de julho como suspeitos de serem mandante e executor do crime, respectivamente. Eles foram denunciados pelo Ministério Público e se tornaram réus por feminicídio, emboscada e promessa de recompensa. Os irmãos não têm advogados de defesa e, até o momento, a Defensoria Pública não foi designada para o caso.
Conforme os depoimentos, após o término do relacionamento entre Raquel e o ex, que ocorreu cerca de um mês antes do assassinato dela, Romero teria ameaçado tirar a própria vida, caso eles não reatassem o casamento.
“Hoje a gente entende que ele nunca tentou se matar, era só pra torturar ela. Quando ela ia tentar separar, aconteciam essas coisas. Era um relacionamento complicado e nada amoroso”, disse a amiga de Raquel, Andressa Boiarski.
Dias antes do assassinato, Raquel desabafou com um familiar. Ela falou sobre o sofrimento que passou ao lado do ex-marido e que, dos nove anos que tiveram juntos, ela foi feliz apenas no primeiro.
“Ela me contou tudo que estava passando, de opressão, sofrimento e ameaça. Ela desabafou, sem eu nem perguntar”, disse.
O casal se conheceu em uma rede social, quando Raquel ainda era adolescente. Após conversarem pela internet, ocorreu o primeiro encontro, que foi escondido dos pais de Raquel. Pouco tempo depois, o deputado Gilberto Cattani (PL) permitiu que eles oficializassem a relação com o casamento. O casal permaneceu junto por nove anos e teve dois filhos.
“Raquel era uma menina que todos a amavam. Não tinha alguém que não gostasse dela. Era meiga e sempre muito educada com todas as pessoas. Começamos a perceber a ignorância dele quando estávamos juntos nas festas. Cheguei a perceber que ela estava triste, não sorria mais, e ela era linda e sorridente longe dele”, contou uma testemunha à polícia.
Em outro episódio detalhado por uma outra testemunha, que não quis ter a identidade divulgada, após o nascimento dos filhos, Romero não respeitou o período de resguardo e teria obrigado Raquel a ter relações sexuais com ele. Além disso, a vítima era constantemente agredida fisicamente e psicologicamente pelo ex, conforme os depoimentos.
“Um dia saíram para comer um lanche e tiveram um desentendimento, e aí ele abandonou ela na estrada. Ela andou de 3 a 4km para chegar em casa. Outra vez ele deu um empurrão contra a porta, que o braço dela ficou roxo”, relatou.
O comportamento de obsessão de Romero também começou a chamar a atenção das pessoas que cercavam o casal, até que o relacionamento chegou ao fim.
“O pessoal do gabinete do deputado era muito educado e, nos fins de semana, ia para o sítio para almoço, aniversário do Cattani ou alguma comemoração do partido, e a gente via ele [Romero] pegando no braço dela, empurrando ela para o lado para que ninguém a cumprimentasse. Era um ciúme doentio e possessivo”, disse a testemunha no depoimento.
Uma semana antes de ser assassinada, Raquel contou a alguns amigos que o ex-marido teria aparecido de surpresa durante a madrugada na casa dela e alegou que estava querendo ver os filhos. Segundo amigos próximos, a jovem temia que algo pudesse acontecer com ela, mas nunca detalhava os problemas que aconteciam entre eles.
“A gente percebia, mas não queria se intrometer, e esse foi o nossa maior erro”, ressaltou outra amiga.
No dia em que o corpo de Raquel foi encontrado, o ex-marido foi até o local e prestou solidariedade à família. No velório, permaneceu ao lado do caixão com o pai de Raquel. Segundo a polícia, tudo foi para tentar desviar as investigações.
Entenda o caso
Raquel Cattani, de 26 anos, filha do deputado estadual Gilberto Cattani (PL), foi encontrada morta no dia 19 de julho deste ano, na região do Pontal do Marape, em Nova Mutum, a 269 km de Cuiabá. Ela era empreendedora e atuava na produção de queijos artesanais em Nova Mutum.
A jovem foi morta com cerca de 30 facadas. O corpo foi achado na manhã do dia seguinte pela própria mãe, em um dos quartos da casa onde morava.
A empresária deixou dois filhos, um menino de 6 anos e uma menina de 3 anos.
Agência da Notícia com G1 MT