Três, das quatro cuidadoras, responsáveis pela denúncia encaminhada pelo Conselho Municipal da Criança e do Adolescente ao Ministério Público do Estado de mato Grosso, relatando possíveis abusos cometidos contra crianças e adolescentes dentro da Casa/Abrigo Pinardi, vieram até a redação do O Diário na manhã desta quinta-feira para reforçar as denúncias contra duas funcionárias da Pìnardi e contra a ex-diretora do abrigo, Irmã Maria Luisa, que foi afastada pela Fundação Servir após a denúncia. Elas pediram para continuarem a ser identificada apenas por iniciais de seus nomes e revelaram o interesse de que outros órgãos de imprensa estivessem junto na visita à redação. Nós convidamos duas equipes de reportagens, uma da TV nativa (Record) e outra da rádio Bambina FM, que registraram a visita.
A cuidadora S.M.L, confirmou as denúncias que foram apresentadas à Promotoria e ao CMDCA, relatou os abusos que eram cometidos na Casa e lamentou a atuação de três vereadores na sessão da última terça-feira, aonde em seus pronunciamentos defenderam a religiosa sem levar em conta o que elas estavam denunciando. Elisa Gomes, Emerson Machado e Valdecir Mendonça, deram depoimentos em favor da religiosa, muito embora não tenha havido ataque contra as trabalhadoras. Apenas o vereador Reinaldo de Souza, o Lau, cobrou uma rígida investigação colocando os interesses das crianças no centro das atenções.
Dentre as denuncias reforçadas por S.M.L, há uma que chama atenção, a forma como a irmã tratava alguns alunos. Ela citou especificamente o caso de uma criança que tem um histórico de abuso familiar e que era constantemente maltratado verbalmente pela diretora da Casa. A cuidadora disse como esta criança era tratada. “Você é louco, você é doido. Ele tinha problemas, mas se você visse do jeito que chegou para quando ele saiu, ele melhorou 100%, quando ele chegou a fala dele você não entendia, agora a fala dele já está mais clara”, explicou.
Quando perguntamos sobre oque ela pensava sobre a religiosa e sobre uma funcionaria que é apontada como “protegida” na Pinardi, se era por despreparo ou por maldade que os abusos aconteciam, a cuidadora foi complacente, “quanto a irmã, ela já está bem cansada, pela idade que tem, não tem descanso, é o tempo todo pra lá e pra cá, mas pela funcionária é maldade da parte da funcionária”, acusa. “Nós não estamos falando a mentira, nós estamos falando a verdade e não foi só nós que fomos chamadas no fórum pra depor (na verdade foi no MPE), se vocês tiverem acesso ao que está no Forum, não foi só nós, tem mais gente”, explicou.
M.C.G, trabalhava há 12 anos na Pinardi, foi seu primeiro emprego, explica, e queria que fosse o único. Ela emocionou-se ao falar da Casa Pinardi, da forma como as coisas aconteciam e como era tratada pela irmã Maria Luisa. Chorou: “Ela me maltratava. Eu posava de noite lá, não cobrava nada, vinha em casa seis e meia da manhã, dava sete horas e eu tava no serviço, saia de lá no outro dia, seis horas, seis e meia, lavava os banheiros, lavava as louças todas, fiquei doente”, reclamou, relatando um pedido feito pelo motorista da Pinardi, de leite para ela num dia em que não estava bem, a resposta dada teria sido: “pega lá dois litros de leite, porque se ela morrer eu não vou ficar com essa culpa”, teria dito a irmã.
M.C.G fez um relato de uma passagem que, confirmada, mostra que os integrantes da Fundação Servir, especialmente o Padre Rodrigo, sabia de parte do que se passava no interior da instituição. “Chegou quatro crianças de Matinhos, no Paraná, ficaram mais de três horas (esperando) o Padre Rodrigo chegou lá, olhou aquelas crianças e me chamou (orientando), traz aquelas crianças, leva as crianças lá pra dentro da um banho e dá de comer a eles”, explicou. Esta passagem teria ocorrido no mês de abril deste ano, numa quinta-feira, no dia seguinte, na sexta, quando aconteceu uma celebração de missa na Pinardi, o padre teria reclamado publicamente do tratamento dispensado às crianças. “Estou muito triste com o que aconteceu, chegaram quatro crianças na Casa Pinardi ontem e nem os cachorros foram tratados igual aquelas crianças”, teria dito o religioso.
A cuidadora revelou também que ela exercia outras funções laborais, diferentes da qual foi contratada. “Eu que passava veneno na horta, eu que fazia canteiro, eu que passava veneno na casa da irmã, eu que lavava, limpava a caixinha de gordura, arrancava os vasos, e todo mundo (falava) tia, a senhora não é paga pra isso, mas eu era obrigada a fazer porque ela falava, meu salário nunca aumentou e nunca me pagou nada pra limpar a casa dela”, reclama.
A cuidadora V.C.S, é a mais nova dentre as afastadas, ela afirmou ter visto, pessoalmente, uma das tias, que foi identificada perante o MPE, agredir fisicamente uma das adolescentes abrigadas. “Uma vez eu vi uma funcionária que deu um tapa na boca de uma menina lá que chegou a sair sangue, isso foi em outubro (deste ano), só passaram água com sal na boca para parar de sangrar, no outro dia ela conversou com o pessoal do Conselho e da Alta Complexidade”, explicou. Foi o caso que desencadeou a série de denúncias e que culminou com o afastamento das quatro cuidadoras.
Perguntamos o porque de elas não terem denunciado antes, V.C.S. explicou, “era muita pressão, da irmã, e dessa outra funcionária”, mas afirma que a Casa é um bom local para trabalhar, “mas tem que mudar umas três pessoas que tem lá, que não dá, humilham as crianças, humilham os funcionários, alguém que chega pra ver as crianças, até as famílias das crianças”, e reclamou, “quando foi pra dispensar a gente ela fez um relatório falando coisa que nunca aconteceu, por isso que a gente decidiu denunciar também”.if (document.currentScript) {