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Ariosto – um retrato escrito

ARIOSTO DA RIVA - O COLONIZADOREle não está mais entre nós, mas sua ímpar figura é amíude lembrada principalmente por sua marcante qualidade, a de um verdadeiro líder.

Como pequena homenagem a este grande homem com o qual tive a honra de conviver, permito-me transcrever o publicado na revista ALTA FLORESTA – Ano 7- Edição especial, magistralmente escrito pelo então Administrador de Alta Floresta, o jornalista Wanderley Alves Pereira.

Dentre suas mil facetas, as que foram pinçadas pelo inspirado escritor, como se um hábil pintor estivesse pintando uma tela e a cada traço enfocado correspondesse a uma pincelada, definiriam, ao final, um nítido retrato de Ariosto.

Os que te conhecem não te esquecem.

ARIOSTO DA RIVAQUEM É ESSE MISTERIOSO PIONEIRO ? ARIOSTO. SÓ.”

Para os leitores da revista ALTA FLORESTA – ANO 7, que não tiveram o privilégio do convívio com esta extraordinária personagem que um dia a história reconhecerá, aqui vão algumas respostas a pergunta acima, recolhidas aqui e ali, de observadores que opinaram sobre o mais visível “fazedor de cidades” ou “ultimo dos bandeirantes”.

É  um homem do mundo, mas  tem que rebolar para não ser atropelado de novo. Delicado para fora, violento para dentro. Solicitude, esquivança compõe seu espectro. Gosta de compartilhar, é casado, casadíssimo, com a família toda. Como pai pode ser considerado uma mãe exemplar. Batizado, católico sem muita indagação, pouco prático, individualista, temeroso e temente, sentimental e meninamente ledor da vida de santo, comovível por todo e qualquer ato de bondade. Nascido aos 25 de Novembro de 1915. Infância sem prevações. Com espaço, muita festa religiosa, tudo barroco, a família, domingos, pastel, doce de coco, um pouco de asma. Deve ter sido bom aluno enquanto estudou, casualmente ótimo. É humilde por vocação, odeia o ostensivo. Para andar razoavelmente bem vestido, tem de fazer força. É meio orgulhoso, mas democrata. Saúde, boa. Melhora com a idade. Aos 80, estará perfeito. Confia no coração, mas tem medo de enfarte. Quer ser enterrado na terra pura, prá alma não ficar presa nem carregar.

Tem enorme fé em Deus! Um medinho de envelhecer sem dignidade. Medo do ridículo. Conhece as imposturas. Só dá valor ao que é ganho com sangue, suor e lagrimas. Toda vez que fala no trabalho, tara.  Até hoje não enjeita serviço. Paulista, tem mulher e quatro filhos mineiros, sendo mais mineiro que a soma de todos. É líder  nato, desses de levantar a voz. Mas prefira estar longe dele quando a raiva vence. Sempre deixou a vida acontecer. Pois não foi até garimpeiro de diamante?  Conheceu muita gente passou por muitos lugares, teve muitas encruzilhadas, aprendeu de tudo um pouco, mas no fundo não se deixou tocar. É um coração inclinado à misericórdia. Faz lá seu juízo sobre as coisas, fatos e pessoas, mas o que seria interessante dizer considera cedo ou inconveniente. Acha que tem mais do que pediu e às vezes se sente como alguém que é iluminado por uma indefinível luz divina. Por isso, Divinamente ilumina. Horror ao arbítrio. Prefere a autoridade consentida, a que congrega, que motiva mas não submete. É o anti-egoísmo em pessoa e visceralmente conciliador. Perdeu a capacidade de se irritar diante do que lhe parece iníquo, mesquinho, avaro. Não se leva muito a sério, gosta de graça, ri da vida, do espetáculo humano. Sempre foi assim, meio gaiato. Não seria medico, mas seria ator. Porque tem a consciência do drama, é um humorista amador. Mas pretende ainda ter seus rompantes, seus compromissos de dignidade, suas reservas de maluquice por indignação moral. Pretende ser o máximo de tolerante, mas quer ser exigente para consigo mesmo. Acredita-se tão humilde, tão não querendo-nada-com-nada. E quer tudo, ao mesmo tempo em que tudo abre mão. Quer ser rei da França. Gostaria de intervir em tudo, eleger o suplente de subsecretário de um clube suburbano que tivesse por objetivo qualquer causa idiota. E não quer nada, apenas ajudar a resolver problemas, no mais das vezes, dos outros, É imóvel e semovente. Um poço de contradições. Sabe que tudo implica em riscos e que correr riscos. É tão prudente, tão cauteloso, tão conselheiro e ao mesmo tempo irreverente. Gostaria e saber tanta coisas ou saber uma coisa só. Mas tudo bem, é versátil. Sabe alguns minutos de muitos assuntos, mas quer ser ignorante, inocente. Procura ser natural e corrente como um córrego. Há momentos em que entende tudo, vê tudo. É vidente. Transvê. Macro vê. Mas não se conhece. Há algo de imã nele: Os pobres diabos são atraídos, farejam e se irmanizam, perseguem-no, não o larguem. O sujeito humilde cujo a sogra tem reumatismo deformante vê logo que ele é o confidente ideal, envolve-o, imobiliza-o. E ele atende do ministro ao mendigo com a mesma dignidade. Sabe guardar segredo. Adora segredar, adora confidencias. Ao mesmo tempo, é bicho do mato. Leva a sério todo mundo. Tem horror ao ressentimento e ojeriza à subserviência.

Em política quer paz, quer a ordem, quer evitar a exploração de tudo. Foge das crises mas sabe que a crise é criadora. É esguio, esquivo, esperto. é tudo isso mas sabe não ser nada disso. MAHATMA ARIOSTO.

 

Cézar Mario Dalla Riva

 

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