A democracia só existe com a participação do conjunto da sociedade. Eis, aqui, uma grande verdade. Verdade que faz cair por terra à tese de que a vida em democracia depende dos grandes vultos da política.
Estes até são importantes, mas não imprescindíveis. Imprescindível é a presença da população nas discussões sobre os mais variados temas, quer sejam sociais, econômicos, políticos e culturais. Daí a relevância das manifestações populares.
São estas, aliás, a força de pressão capaz, inclusive, de empurrar os parlamentares a tomarem certa decisão, a exemplo do impeachment contra a presidente Dilma Rousseff.
Impeachment que se encontra muito longe de ser um ‘golpe’, como estranhamente tentam ‘vender’ os governistas e os petistas.
Pois o dito procedimento tem previsão pela própria Constituição, e deve ser acionado quando ocorrer crime de responsabilidade, e o tal crime infelizmente foi cometido, e este foi rigorosamente identificado por seus propositores.
Três juristas conceituadíssimos. Mas a sua aprovação, vale dizer, depende unicamente de uma ação política (ou de um conjunto delas).
Esta ação carece sobremaneira da pressão popular. Isso não é segredo para ninguém. Nem mesmo para a presidente, que aposta suas fichas no imediatismo das pessoas, e é essa condição que pode levar o esvaziamento das ruas.
Tal esvaziamento, aliás, já vem ocorrendo. Basta avaliar as últimas três ou quatro passeatas.
Em março deste ano, de acordo com os cálculos da Polícia Militar, 230 mil manifestantes estiveram nas ruas da Capital paulista. Diferentemente, porém, do domingo (13/12), cuja quantidade ficou um pouquinho mais de 30 mil.
Situação também registrada em todas as cidades do país. Em Brasília, por exemplo, o número de populares não superou a casa dos 6 mil; em Belo Horizonte, ficou em 3 mil; no Rio de Janeiro, a quantidade foi bastante pequena, e em Cuiabá, 2,5 mil.
Esses baixos números são preocupantes. Não apenas aos organizadores do movimento a favor do impeachment.
Tanto que de nada lhes adianta justificarem que só tiveram uma semana para convidarem a população, nem a desculpa de que ‘é só um aquecimento para a megamanifestação do dia 13 de março de 2016’.
O esvaziamento das ruas tem, sim, outras razões, e uma delas é o desejo que as coisas aconteçam rapidamente (o imediatismo).
Elas (as coisas) não irão acontecer com a rapidez desejada. Especialmente em um processo de impeachment. Este depende de todo um ritual, de procedimentos legais e da burocracia parlamentar, somada ao direito dos contrários em espernearem, inclusive recorrendo ao Supremo Tribunal Federal.
O que demanda tempo, e este esgota a paciência da maioria dos que gostaria de estar nas passeatas, nas manifestações.
A impaciência dos populares leva o esvaziamento das ruas (que também se dá em razão das férias e das festas de final de ano). Este faz os congressistas relaxarem, e tal condição possibilita a não aprovação do impeachment. Possibilidade não descartada.
Ao contrário, pois a presidente carece de tão somente 172 votos na Câmara Federal – sete a menos do que a chapa governista conseguiu na votação para a escolha dos membros da comissão responsável pela analise da admissibilidade ou não do pedido de impeachment.
É isto.
LOUREMBERGUE ALVES é professor universitário e analista político em Cuiabá.