A inflação do país tem ficado “ligeiramente acima” do antecipado, e por isso a política de juros do país tem que se manter “especialmente vigilante”, segundo o Banco Central. A avaliação consta da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC – que elevou os juros básicos da economia para 10,5% ao ano –, divulgada nesta quinta-feira (23). Com isso, o BC indica que novas altas de juros não estão descartadas.
No ano passado, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a “inflação oficial” do país, somou 5,91%. Com isso, ficou acima do patamar registrado em 2012 (5,84%), contrariando a expectativa do presidente da instituição, Alexandre Tombini. Ele declarou em diversas ocasiões, no decorrer de 2013, que a inflação registraria queda frente ao patamar de 2012 – o que não aconteceu.
Para este ano, o mercado financeiro prevê nova alta da inflação. Segundo pesquisa do BC com os economistas dos bancos, o IPCA deve ficar em 6,01% neste ano.
Sistema de metas de inflação
Pelo sistema que vigora no Brasil, o BC precisa calibrar os juros para atingir as metas preestabelecidas, tendo por base o IPCA, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para 2014 e 2015, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Desse modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem ela seja formalmente descumprida.
Estimativa de inflação subiu
O Banco Central também informou, na ata do Copom, que sua projeção para a inflação de 2014 aumentou em relação ao valor considerado na última reunião (em novembro do ano passado), e que permanece acima da meta central de 4,5% – tanto no “cenário de referência” (juros e câmbio estáveis) quanto no “cenário de mercado” – que contempla a estimativa dos economistas dos bancos para câmbio e juros. “Para 2015, em ambos os cenários, a projeção de inflação se posiciona acima da meta”, acrescentou o BC.
Juro vem subindo desde abril
Desde abril do ano passado, a autoridade monetária vem promovendo aumento da taxa básica de juros da economia brasileira para tentar conter a inflação. Naquele momento, a taxa Selic estava em 7,25% ao ano, passando para 10,50% ao ano em janeiro de 2014 após sete elevações consecutivas. Ao todo, a alta dos juros, desde abril do último ano, somou 3,25 pontos percentuais.
A expectativa do mercado financeiro é de um novo aumento dos juros no começo de abril, quando a taxa básica da economia brasileira avançaria para 10,75% ao ano. Depois disso, a previsão é de novas altas em 2015. Para o fim do ano que vem, a estimativa dos economistas dos bancos é de que os juros atinjam 11,50% ao ano.
Inflação acima do antecipado e ritmo de alta do juro
O Banco Central avaliou, na ata do Copom, que a elevada variação dos índices de preços ao consumidor nos últimos doze meses contribui para que a inflação ainda mostre resistência e acrescentou que o IPCA “tem se mostrado ligeiramente acima daquele que se antecipava”.
“Nesse contexto, inserem-se também os mecanismos formais e informais de indexação e a percepção dos agentes econômicos sobre a dinâmica da inflação. Tendo em vista os danos que a persistência desse processo causaria à tomada de decisões sobre consumo e investimentos, na visão do Comitê, faz-se necessário que, com a devida tempestividade, o mesmo seja revertido. Dessa forma, o Copom entende ser apropriada a continuidade do ritmo de ajuste das condições monetárias ora em curso”, informou o Copom, por meio da ata de sua última reunião.
Alta do dólar pressiona preços
O Copom também manteve a avaliação de que a alta do dólar resulta em “natural e esperada correção de preços relativos”. “Importa destacar ainda que, para o Comitê, a citada depreciação cambial constitui fonte de pressão inflacionária em prazos mais curtos. No entanto, os efeitos secundários dela decorrentes, e que tenderiam a se materializar em prazos mais longos, podem e devem ser limitados pela adequada condução da política monetária”, acrescentou.
Gastos públicos
O Banco Central também manteve a avaliação de que o cenário central para a inflação leva em conta a materialização das trajetórias com as quais trabalha para as variáveis fiscais (gastos públicos) e que se criam condições para que, no horizonte relevante para a política monetária, o balanço do setor público se desloque para a “zona de neutralidade” – sem elevação de despesas pelo setor público.
“O Comitê nota ainda que a geração de superavit primários [economia para pagar juros e manter a dívida pública em queda] compatíveis com as hipóteses de trabalho contempladas nas projeções de inflação, de um lado, contribuiria para arrefecer o descompasso entre as taxas de crescimento da demanda e da oferta; de outro, contribuiria para criar uma percepção positiva sobre o ambiente macroeconômico no médio e no longo prazo”, informou o Copom.
FONTE: G1