Mato Grosso é o 6º estado com a pior avaliação geral das rodovias estaduais e federais de acordo com a 25ª edição da Pesquisa CNT de Rodovias, divulgada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) nesta quarta-feira (09).
Dos quase 5 mil quilômetros analisados, 79,3% foram considerados como ruim, regular ou péssimo e apenas 20,7% da malha foi considerada ótima ou boa, o que comprova uma piora em relação à última pesquisa. Em 2021, o índice de reprovação era de 64,1%. Os dados estaduais são piores que a média nacional. No país, 66% da malha viária foi considerada de ruim a péssima.
A pesquisa identificou 15 pontos críticos no Estado. As principais ocorrências são de buracos grandes, erosão na pista e queda de barreiras. Essas situações, segundo o relatório, obrigam os motoristas a se deslocarem fora da faixa de rolamento.
Entre os quesitos analisados, a qualidade do pavimento foi reprovado em 57,9% dos trechos avaliados, enquanto 42,1% estão em condição satisfatória. Do mesmo modo, a sinalização das vias deixa a desejar na opinião de quem trafega por Mato Grosso. Para os usuários, a sinalização nas rodovias é ruim em 74,8% de toda extensão da malha rodoviária. O estudo cita como exemplo a falta de faixa central em 4,1% dos trechos e de faixas laterais em 8,2%.
Em relação à geometria da via, em quase toda a malha mato-grossense (92,2%) existem apenas vias simples, ou seja, não duplicadas. Em 49,2% faltam acostamento e em 27% dos trechos com curvas perigosas não há sinalização. O tópico avalia entre outras coisas a distância de visibilidade e a possibilidade de ultrapassagens em segurança.
Questões relacionadas ao meio ambiente também são levadas em consideração. A CNT estima que, em 2022, haverá o consumo desnecessário de R$ 55 milhões de litros de diesel em função da má-qualidade das rodovias em Mato Grosso. O desperdício custará aos transportadores a cifra de R$ 253,26 milhões.
Além disso, a pesquisa aponta que são necessários R$ 3,6 bilhões para recuperar as rodovias em Mato Grosso, com ações emergenciais, de restauração e de reconstrução. O valor é o 6º maior do país.
Não acompanhou o progresso
Presidente do Sindicato dos Transportadores Rodoviários Autônomos de Bens de Mato Grosso (Sindicam-MT), Roberto Pessoa Costa arrisca dizer que o Estado possui a pior malha viária do Brasil. A pior rodovia está aqui, sem sombra de dúvida.
Vivenciando o dia a dia das estradas, ele avalia as rodovias como péssimas e aponta os buracos, a falta de sinalização e de infraestrutura como sendo os principais problemas. Vários fatores contribuem para essa má-avaliação. As rodovias que são pedagiadas não têm acostamento, nem pista dupla. Outro dia chegou a faltar guincho e apoio para tirar um corpo de dentro de um carro. No trecho entre Cuiabá e Rondonópolis não dá para ver nada no período noturno porque não tem sinalização.
O caminhoneiro elege a BR-163 como o principal gargalo no Estado. Apelidando a rodovia de corredor da morte, o presidente do Sindicam aponta a necessidade da duplicação da via, que tem alto número de acidentes e mortes. Se não duplicar vai morrer ainda mais gente. E fica também o vazio de quem já foi. Os companheiros saem para trabalhar e voltam dentro de um caixão. Quem vai indenizar essas mortes?, questiona.
Para Roberto, a malha viária que corta Mato Grosso não acompanhou o progresso e possui a mesma qualidade de 30 anos atrás. O problema, segundo ele, é fruto da falta de empenho político. Não é proporcional. Temos de 35 a 40 mil veículos rodando em rodovias que não têm manutenção. E falta empenho político, porque aqui tudo fica na promessa. O apelo aos governantes é que tenham mais atenção e prioridade para as rodovias.
Investimento e fiscalização
Professor do curso de Engenharia Civil da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Eldemir Pereira de Oliveira acredita que a pesquisa é um indicativo dos problemas. Se o resultado aponta essa avaliação é porque realmente alguma coisa está errada. Pode ser a qualidade do pavimento que não tem manutenção e não acompanhou o incremento do tráfego. Há também a questão das concessões que ficam embaraçadas, a exemplo da BR-163 que deve voltar para os cuidados do governo estadual, cita.
Para o professor, a BR-163 também é um gargalo. Em Mato Grosso, a rodovia que se sobrepõe à BR-364, dá acesso ao Porto de Santarém, no Pará, destino dos produtos a serem exportados. O trecho, segundo Eldemir, concentra um tráfego de veículos pesados em um asfalto já comprometido pelo tempo. Esse é um caminho onde há incremento de carros pesados por causa das exportações. Esses veículos trafegam num piso já comprometido, que piora e influencia nessa má-qualidade. A resposta, segundo o professor, se nota no aumento de acidentes e vítimas fatais.
O caminho para as melhorias pode estar em investimento e fiscalização, avalia Eldemir. Se for um trecho concessionado cabe ao estado fiscalizar. É uma via de mão dupla, se as empresas ou o governo recolhem é preciso que o dinheiro retorne em benefício da sociedade.
Outro lado
Em nota, a Secretaria Estadual de Infraestrutura alega que a maior parte dos trechos analisados pela CNT é de responsabilidade do governo federal, sem ingerência do Governo do Estado. O documento aponta a concessão das rodovias estaduais à iniciativa privada e investimento de R$ 42,2 milhões em trechos sob jurisdição estadual.
O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não deu retorno.
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