Desde que Fabrício Queiroz foi preso numa casa que pertence ao advogado Frederick Wassef, há uma semana, o presidente Jair Bolsonaro e seu entorno têm “pisado em ovos” para não melindrar o agora ex-defensor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ). No Palácio do Planalto, Wassef é tratado como um “homem-bomba”, que exige toda a cautela.
O presidente e sua família temem uma eventual reação destemperada do advogado diante de um rompimento brusco. A cúpula do Planalto mantém no radar a possibilidade da prisão de Wassef caso sejam identificados indícios de crime na sua relação com Queiroz, ex-policial militar do Rio que atuou como assessor parlamentar de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) e é amigo de longa data do presidente. Nos bastidores, outro diagnóstico é que Bolsonaro e Flávio erraram por não terem escolhido um “medalhão” desde o início do caso.
Na noite de domingo, Wassef informou que deixaria a defesa de Flávio no processo em que o parlamentar é investigado por movimentações financeiras suspeitas. Ele disse não ter feito nada de errado, mas deixaria a causa porque, segundo ele, a mídia tem se aproveitado da situação para atacar o senador e o pai.
— Assumo total responsabilidade e estou saindo do caso, substabelecendo (o processo) para outro colega. Ficarei fora do caso para que não me usem — declarou o advogado, que foi substituído pelo criminalista Rodrigo Roca.
Flávio foi imediatamente ao Twitter declarar que “a lealdade e a competência do advogado Frederick Wassef são ímpares e insubstituíveis”. Contudo, “por decisão dele e contra a minha vontade, acreditando que está sendo usado para prejudicar a mim e ao presidente Bolsonaro, deixa a causa mesmo ciente de que nada fez de errado”, escreveu. O senador e o próprio Wassef diziam, nos últimos meses, não terem conhecimento de onde estava Fabrício Queiroz.
O afago ocorreu após um episódio que irritou bastante o advogado, a divulgação de uma nota da advogada Karina Kufa afirmando que ele não é advogado do presidente, como o próprio Bolsonaro já declarou publicamente e como Wassef costumava se apresentar. Wassef classificou a atitude de Karina “antiética”.
Advogada diz ter morado com Queiroz em Atibaia
O “Jornal Nacional” desta quarta-feira entrevistou uma advogada que diz que trabalhado na casa de Wassef de Atibaia a partir de maio de 2019 e que confirmou a presença de Queiroz no local. Ela contou que conviveu com o ex-assessor de Flávio Bolsonaro na residência por um período ainda no ano passado. Disse que não lembra exatamente quando ele chegou, mas, enquanto estiveram juntos no endereço, eles conviveram e ficaram próximos. “Querendo ou não, a gente criou um vínculo de amizade”, contou Ana Flávia Rigamonti.
As declarações da advogada contradizem Wassef, que chegou a afirmar que Queiroz não estava morando em sua casa.
Ana Flávia contou ainda que a mulher de Queiroz, Márcia, que está foragida, passava temporadas no endereço. Ela relatou ainda que emprestou o próprio carro algumas vezes para Queiroz circular pela cidade. “Para onde ele ia, eu não ficava perguntando”, falou.
Imóvel em Atibaia tem alvará vencido
O imóvel onde está registrado o escritório de advocacia de Frederick Wassef, em Atibaia, está com o alvará vencido desde setembro de 2012. Foi nessa casa que a polícia prendeu Queiroz, na última quinta-feira. Segundo a prefeitura da cidade paulista, desde que expirou a licença, há quase nove anos, Wassef não a renovou.
“A casa teve alvará vencido em 30 de setembro de 2012 e não mais renovado. Como profissional autônomo e caracterizado como atividade não estabelecida, o local passou a constar apenas como endereço de correspondência”, informa nota do município ao EXTRA.
A localização do ex-assessor de Flávio Bolsonaro na casa de Wassef, então advogado do filho mais velho do presidente, levantou suspeitas de autoridades sobre uma possível tentativa de obstrução de Justiça. Wassef sempre negou essa possibilidade. A lei garante a inviolabilidade dos escritórios de advocacia, sob a lógica de garantir o direito de defesa dos cidadãos.
Por ter ocorrido num imóvel registrado como escritório de advocacia, a ação da polícia que resultou na prisão de Queiroz foi acompanhada pela Comissão de Prerrogativas da OAB. No entanto, advogados que acompanharam as buscas informaram à OAB que, embora exista uma placa de identificação na entrada do imóvel, não foi encontrado material algum de escritório de advocacia, tampouco qualquer documento relativo à atividade.
Praticante de voo livre na cidade paulista
Embora o endereço de seu escritório de advocacia seja registrado em Atibaia, Wassef tem uma atuação no ramo pouco conhecida na cidade. No Tribunal de Justiça de São Paulo, ele aparece como advogado em apenas três ações, todas de interesse particular dele mesmo. Naquele pequeno município, as pessoas que conviveram com o advogado se lembram dele como praticante de voo livre, já que Atibaia tem ventos propícios para os amantes do esporte.
Wassef não retornou os contatos desta reportagem. Em entrevista ao SBT, o advogado negou ter escondido o ex-assessor de seu então cliente, Flávio Bolsonaro. “Jamais escondi Fabrício Queiroz. Ele estar lá não é nenhum crime, nenhum ilícito, não é obstrução de justiça, não há nenhuma irregularidade”, afirmou ele.
Fonte: Yahoo Noticias