Bruno Felipe / Da Reportagem
Após o lançamento do novo programa do Governo Federal que pretende apresentar aos adolescentes as vantagens de adiar o início da vida sexual como forma de evitar uma gravidez precoce, uma polêmica foi instaurada em todo o país acerca do assunto. A ‘Campanha de Prevenção da Gravidez na Adolescência’, que vem sendo chamada de projeto da “abstinência sexual”, já provocou manifestações de médicos e outros especialistas.
A iniciativa da campanha é do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, comandado por Damares Alves que afirmou, no dia do lançamento, que a campanha é baseada em resultados alcançados por estratégias semelhantes em países como EUA e Chile; segundo ela, a iniciação sexual no Brasil, na faixa de 12 anos para meninos e 13 para meninas, representa um comportamento de risco em termos de saúde. A ideia é também uma alternativa às políticas dos últimos governos que, segundo Damares, não deram certo.
A reportagem do Jornal O Diário procurou o atual coordenador do Programa Saúde na Escola (PSE), Claudiomiro Vieira, que há anos realiza o trabalho de prevenção através da informação nas escolas públicas e particulares em Alta Floresta, para maiores esclarecimentos sobre a nova campanha, entretanto, Claudiomiro salientou que até o momento nenhum ofício ou orientação foi enviada pelos Ministérios da Saúde e da Educação sobre o assunto, sendo que a única informação sobre a campanha foi tomada através da mídia nacional.
Em entrevista, ele disse que está aguardando o recebimento de alguma orientação técnica para então desenvolver a estratégia de trabalho, enquanto isso, atuará como sempre fez utilizando da informação clara e objetiva nas palestras realizadas nas instituições de ensino. “Sem ter dados em mãos para analisar o resultado em relação a essa metodologia, a gente não consegue nem dar um parecer se é eficaz ou não”, disse Claudiomiro.
A professora aposentada Ilmarli Teixeira, que já trabalhou diretamente com crianças e adolescentes ao longo dos seus mais de 35 anos de carreira, afirmou que a ‘informação’ vale mais do que se ‘abster’. Para ela, é preciso ampliar os debates e as discussões sobre os temas e não simplesmente proibir o jovem de iniciar a vida sexual. “não são as proibições que diminuem determinados índices, mas sim a forma como você aborda, como você discute, como você debate e constrói alternativas”, disse ela, em entrevista para a reportagem do Jornal O Diário.
Vale ressaltar que logo após a divulgação, o projeto de abstinência foi recebido com ressalvas dentro do próprio governo. A Defensoria Pública da União chegou a enviar uma recomendação ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, pedindo que a campanha da abstinência sexual não fosse veiculada; segundo o documento, a política não tem evidências científicas e pode trazer riscos para os adolescentes.