Uma viagem só de ida para Marte poderia fazer parte de qualquer filme de ficção científica. Mas, o que seria normal de se ver só nas telonas pode virar realidade daqui a nove anos. A empresa holandesa Mars One está com inscrições abertas até o dia 31 de agosto para voluntários que desejam se candidatar a uma viagem só de ida ao planeta vermelho em 2022. Beatriz Roriz, uma estudante carioca de 21 anos, está entre os cerca de 100 mil voluntários inscritos em todo o mundo na disputa por 24 vagas. A brasileira foi uma das quatro escolhidas para participar do documentário de divulgação, o One Way Astronaut (Astrounata sem volta) – que explica o projeto em detalhes para aqueles que se dispuserem a morar em Marte.
“Eu hoje estou mais esperançosa de ser selecionada do que no início. Fiz um vídeo de propaganda deles, respondi uma carta e fiquei entre os quatro selecionados no mundo inteiro para fazer esse documentário”, contou Beatriz.
A iniciativa, sem fins lucrativos, foi lançada em abril deste ano. Qualquer pessoa com mais de 18 anos e com inglês fluente ainda pode se candidatar. Após a inscrição, os aspirantes a astronautas passarão por uma triagem feita pela Mars One.
A seleção será feita com base no currículo, carta de intenção e vídeo enviado pelo candidato. Na segunda fase, os candidatos devem apresentar atestado médico e físico e se encontrarão com comitês regionais da missão para entrevistas. Em seguida, cada país votará em um candidato e restarão 24 voluntários, que serão devidamente treinados. Até agora, o site do projeto confirma ter recebido inscrições de mais de 120 países, incluindo Brasil, EUA, China, Rússia, México, Canadá, Colômbia, Argentina e Índia.
‘Big Brother’
Os escolhidos serão divididos em seis viagens só de ida, com quatro passageiros cada, entre 2022 a 2024. A primeira partida está prevista para o segundo semestre de 2022, e chegará ao planeta sete meses depois, já em 2023. A organização aposta na realização de um reality show, em que serão exibidos os treinamentos para viagem, para angariar recursos e financiar boa parte da missão.
Beatriz mora na Zona Oeste do Rio e estuda Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela ficou sabendo do programa através da internet e diz que sempre sonhou em viajar pelo espaço.
“Eu acompanho a Mars One pela internet e sempre tive vontade de ser astronauta, mas no Brasil é muito difícil. Colonizar um planeta novo é uma oportunidade única e eu não posso perder”, disse a estudante, acrescentando que sempre teve apoio dos pais, mas, como é filha única, existe receio da parte deles.
“No começo minha mãe ficou super empolgada. Quando viu que era sério, ficou um pouco chateada. Sou filha única. Existe um sentimento de tristeza dos meus pais, já que é uma viagem só de ida, mas eles apoiam. Acho que quem for vai demorar a se adaptar, mas depois será como aqui na Terra, só que em um ambiente controlado. Vamos viver em redomas controladas e com rotinas comuns. Acho que depois de um tempo será como uma comunidade pequena”, afirmou.
O holandês Ernst Daniel Nijboer, co-produtor da Mars One na América Latina, disse que há outros brasileiros inscritos no projeto e ponderou que Beatriz tem boas chances.
“Entrevistei a Beatriz duas vezes. Acho que ela tem grandes chances porque ela é muito determinada. Seus pais estão apoiando bastante e ela tem personalidade para uma menina de 21 anos”, disse.
Os candidatos que pretendem se inscrever pagam uma taxa que, de acordo com os organizadores do Mars One, ajudará a financiar o custo do projeto, orçado em US$ 6 bilhões (ou quase R$ 14 bilhões). O valor da inscrição varia de acordo com o país. Nos EUA a taxa é de US$ 38 (ou cerca de R$ 86), no Brasil o valor é menor – US$ 13 (ou aproximadamente R$ 30).
Ambiente controlado
A energia no planeta vermelho será gerada por painéis solares, a água será reciclada e extraída do solo, os astronautas vão cultivar os alimentos que vão consumir e também contarão com suprimentos de emergência.
Marte é um planeta varrido pelo vento solar. Na Terra, por outro lado, estamos protegidos do vento solar graças a um forte campo magnético. Sem ele, seria muito mais difícil sobreviver. Para minimizar a radiação, os responsáveis pelo projeto vão cobrir com vários metros de terra as cúpulas onde os colonos vão viver. Elas serão cavadas pelos próprios habitantes do local.
Fonte: G1