No centro do ringue, um garoto de apenas 12 anos.
Orientando o pugilista infantil, um córner de luxo: seu avô, único medalhista olímpico brasileiro no boxe entre 1968 e o ano passado, e seu pai, ex-treinador de um campeão mundial de pugilismo.
“Quando o seu adversário vier para cima, ‘bing, bing, bing'”, instruía ao neto Servílio de Oliveira, 65, gesticulando como quem dispara jabs [golpes preparatórios de esquerda]. “Toca os jabs para afastá-lo. Toca com jabs.”
Filho de Ivan de Oliveira, Luiz Gabriel de Oliveira, 44 quilos, tinha pela frente Igor dos Santos, dois anos mais velho, dois quilos mais pesado, com os braços já definidos, mais alto e experiente.
Na plateia da Omega CT, academia paulistana, no fim de semana, ao perceber o contraste, Victoria, mulher de Servílio e avó de Luiz, gritou: “Meu neto não luta com esse moleque. Olha o tamanho…”
Na família, o próprio Servílio é exemplo de acidente grave ocorrido nos ringues.
Em 1971, em um combate em que tinha domínio, Servílio levou uma cabeçada involuntária de Tony Moreno. O impacto descolou sua retina e pôs fim a sua carreira.
Victoria foi contida pela nora, que argumentou que o neto estava em boas mãos.
Mãos de Ivan, que guiaram Valdemir Pereira, o Sertão, ao título dos penas da Federação Internacional de Boxe.
Controlado ao dar instruções no córner, Servílio berrava orientações durante o andamento dos assaltos.
No último deles, Gabriel baixou os braços e acenou com a cabeça, como que chamando o rival para a briga.
À conclusão do duelo, os dois meninos tiveram os braços levantados: um empate.
Servílio, que se define como “pessoa fria”, desabafou.
“Ele [Gabriel] ganhou a luta, deram o empate para evitar polêmica. Esse é meu representante”, disse Servílio, que para deixar tudo em família sugeriu a “revanche”.
“O João Vitor [enteado de Ivan], de 14 anos, também é bom, pode pegar o Igor.”
Ivan, em alguns momentos, viu o pai no ringue.
“O Bolinha [apelido de Gabriel] gosta de caminhar para a frente [atacar], como meu pai, é confiante. E joga combinações como o Servílio…”
Fonte: Folha de São Paulo