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Da roça ao UFC, brasileira levanta bandeira gay contra rival também homossexual

Da roça ao UFC2éssica Andrade tem apenas 21 anos, mas a idade esconde uma vida de experiências que já fazem dela praticamente uma veterana. Trabalhou na roça no interior do Paraná, assumiu-se gay e apostou nas lutas, indo do jiu-jítsu ao MMA e, moldada sempre em treinos contra homens, chegando UFC. Ela será a primeira brasileira na história a entrar no octógono, neste sábado, e curiosamente diante de uma rival também homossexual, a ex-desafiante ao cinturão Liz Carmouche.

Apelidada de “Bate Estaca” e dona de quatro nocautes e cinco finalizações em uma carreira de 11 lutas (nove vitórias e duas derrotas), Jéssica luta por si, pela sua família e academia e também não se nega a levantar bandeira por uma causa maior. Ela tem um relacionamento sério de longa data com outra mulher – no Facebook, dizem-se casadas, e na prática são “juntadas” – e revela que foi sua companheira que a fez seguir no MMA.

“Nós estamos juntas há dois anos. Ela foi uma das que mais me apoiou em toda a minha carreira. Várias vezes, pelas dificuldades, eu quis parar. Mas ela nunca deixou. Falava: ‘você chegou tão longe, vai parar agora? Continua! Você tem futuro!’. Sem ela, eu teria parado, estaria trabalhando na roça, no sítio com o meu pai, ou em uma farmácia… Ela foi crucial”, conta, emocionada, a lutadora.

Jéssica achou curioso e interessante entrar justamente num duelo com Liz Carmouche, que participou da primeira luta feminina da história do UFC – ela quase finalizou Ronda Rousey, mas levou uma chave de braço da campeã no UFC 157. Carmouche, homossexual assumida, também defende a bandeira gay e até luta com um protetor bucal com as cores do arco íris.

“É legal tê-la como rival, ela se revelou até antes de mim, é mais velha, e é bom saber que as pessoas vão olhar para a gente, vão ver nossa luta e não vão se importar com isso. Não é uma doença, é algo que nasce com você. Eu sempre fui homossexual, nunca tive vergonha de dizer. Cada pessoa tem sua escolha de revelas, e algumas não tem coragem. Mas eu defendo, sou feliz assim. Isso não influência meu jeito de lutar, meu jeito de ser”, explica ela.

Vida dura da roça até o UFC

Natural de Umuarama, no Paraná, Jéssica Andrade está no Rio há quatro meses, focada nos treinos e na preparação para a estreia no UFC. Antes de se aventurar no MMA profissionalmente, ela teve de ir para a roça trabalhar, numa rotina desgastante entre o plantio de cana-de-açúcar e a academia, que incluía cinco quilômetros de caminhada para pegar um ônibus.

“Eu trabalhei na roça quase um ano com o meu pai. Era numa usina de cana, e eu trabalhava de tratorista. Acordava às 5h da manhã, voltava às 20h e ia treinar. Mas era assim, tinha de pagar aluguel, porque estava morando na cidade. Ou trabalhava e treinava, ou voltava a morar no sítio”, revela ela.

Jessica encontrou o mundo das lutas no fim do seu ciclo como estudante, ao entrar num projeto de judô. Daí, partiu para o jiu-jítsu e recebeu um convite para lutar MMA. Como aceitou e venceu a luta, achou um novo rumo para sua vida.

E nesta jornada fazendo boxe, jiu-jítsu, muay thai, wrestling e mais, são os homens que são os companheiros no dia a dia.

“Meus parceiros de treino são como irmãos. Só treino com meninos mesmo, é bom para pegar técnica e gás, fico mais forte. Eles não se importam de apanhar de mim, às vezes nocauteio alguém (risos). Mas também tomo umas porradas meio fortes. Fico tonta, mas é bom para pegar resistência”, afirma ela, entre risos.

Antes de chegar ao UFC, Jéssica teve em suas mãos um contrato com o evento feminino Invicta FC, mas foi paciente, segundo conta o técnico e empresário dela, Gilliard Paraná. “Estávamos conversando com o Invicta, eles fizeram um contrato e nos mandaram, estava na nossa mão. Mas resolvemos esperar um pouco, até agosto. Se não aparecesse, assinaríamos, mas chegou o UFC, e é uma diferença muito grande entre os eventos.”

Sobre o duelo com Carmouche, Jessica admite ser zebra, mas não se deixa levar por isso. “Eu acho que ela tem um pouco mais de experiência por já ter lutado no UFC, está um pouco mais tranquila. Mas acho que não vai influenciar não. O que vai valer ali é a força de vontade. Vai ganhar quem lutar. Talvez a pressão seja maior sobre ela, que tem que lutar em casa. As pessoas podem esperar de mim uma menina que dá o coração, vou dar tudo para ganhar e vou usar todas as armas possíveis para a galera ver que eu fiz o máximo e o meu melhor”, concluiu a primeira brasileira a entrar no octógono do UFC.

Fonte: uol

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