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ICV e Sicredi firmam parceria para apoiar agricultura familiar na Amazônia mato-grossense

O acesso ao crédito rural garante recursos para investimentos na produção e assim promove qualidade de vida, possibilita maior sustentabilidade ambiental e maximiza a permanência na área rural especialmente para agricultura familiar, de baixo capital.

Uma nova parceria firmada entre Instituto Centro de Vida (ICV) e a Cooperativa Sicredi Grandes Rios MT/PA vai facilitar a concessão de crédito rural para agricultura familiar em dois municípios da região norte e noroeste de Mato Grosso, na Amazônia.

O convênio entre a organização da sociedade civil e a instituição financeira é fruto de uma articulação iniciada em 2019 e surgiu para apoiar a agricultura familiar que, entre dificuldades historicamente enfrentadas e potencializadas pela pandemia do último ano, sofre para acessar o recurso.

Com as taxas de juros altas e falta de informação sobre o processo, os agricultores por vezes desistem antes mesmo de tentar.

Enquanto isso, a pouca ou nenhuma informação sobre as particularidades das cadeias e dos produtos na região também dificulta as concessões do crédito pelas instituições financeiras.

“O agricultor familiar sempre passou por muita dificuldade. Desde não saber da possibilidade até não encontrar condições por parte dos bancos para ter acesso”, explica Luan Cândido, técnico do Programa de Negócios Sociais do ICV.

A parceria que firmou o ICV como agente de crédito já contabiliza os primeiros resultados, que alinham produtividade e aprimoramento de métodos de produção sustentáveis.

Em Paranaíta, uma família acessou o recurso para adquirir motocultivador, lona para estufa e roçadeira para melhorar a produção de hortifrutigranjeiros e do sistema agroflorestal (SAF) implementado na propriedade há um ano.

Outro projeto beneficiou um produtor de leite em transição para o orgânico na suplementação da alimentação das vacas da criação em Alta Floresta.

Camila Rodrigues, coordenadora do Programa de Negócios Sociais do ICV, ressalta que a instituição cumpre papel que vai além da designação como agente de crédito rural.

“Nosso foco é um crédito diferenciado, com foco em uma agricultura sustentável, orgânica e com sistemas agroflorestais, com arranjos cada vez mais sólidos para as famílias agricultoras e que impactam positivamente os recursos naturais e a floresta”, diz.
 

DIVERSIFICAÇÃO DE DADOS E DE PRODUTORES BENEFICIADOS

Liliane Torres, gerente da Sicredi Centro, agência localizada no município de Alta Floresta, afirma que o convênio resultou em uma diversificação na gama de associados da cooperativa no município.

“Atendíamos basicamente pecuária de leite. Agora vamos atingir ainda mais pequenos produtores”, conta.

Para apoiar a inclusão dessas famílias, a instituição levantou e disponibilizou estudos de viabilidade econômica para diferentes produtos da agricultura familiar, como hortaliças e frutas.

As informações foram incorporadas pelo banco de dados do Sicredi, o que vai beneficiar a todos solicitantes de crédito na agricultura familiar da região, não apenas famílias assessoradas pelo ICV.

“Realizamos o levantamento de informações de cada produto fornecemos ao banco para ele saber o custo e o rendimento desses produtos. Sem isso, a cooperativa de crédito não sabe quanto tempo demora para ter o retorno, o que complica a liberação do recurso”, diz Luan, responsável pelo levantamento dos dados.

Luan explica que, em geral, as instituições financeiras têm apenas informações de propriedades maiores, mesmo que se enquadrem na categoria de agricultura familiar pelo Programa Nacional de Apoio para Agricultura Familiar (Pronaf).

“Um produtor com 400 hectares é muito diferente daquele com um hectare. E os bancos geralmente só tem informação ligadas a essas propriedades e outras maiores, com dados de gado de corte, soja, milho, trigo e arroz. Em geral, commodities”, afirma.

“O pequeno produtor rural trabalha com venda direta, com sazonalidade, com hortifrutigranjeiros, é uma situação distinta”, completa.

Desde 2019 o ICV organizou visitas de campo com agentes do banco em pequenas propriedades rurais da região.

Nas atividades, foram apresentadas in loco aos profissionais do banco as particularidades e desafios de cada uma das cadeias produtivas da agricultura familiar na área, como leite, café e hortifrutigranjeiros.

Para David da Silva, gerente da agência Sicredi Empresas, os dados irão alavancar novos projetos em Alta Floresta e região. “Vamos conseguir levar recursos para o desenvolvimento da agricultura familiar na região com mais força”, define.
 

ASSESSORIA TÉCNICA CONTINUADA

As informações sobre abobrinha, pepino, alface e tomate e outros alimentos produzidos da agricultura familiar ajudam no planejamento, mas um dos principais fatores que possibilitaram a parceria foi a assessoria técnica realizada pelo ICV às famílias.

O acompanhamento resulta em projetos de crédito melhor estruturados e adequados às realidades específicas do produtor.

“O crédito rural precisa fazer sentido e não pode dificultar a situação da família depois. Então esse planejamento é feito em campo pelo próprio ICV. Quando vem pra gente, ele já vem com essa visão do todo”, diz e garante: “Nosso maior ganho é a diferença real na vida daquela família.”

A demanda das famílias é planejada com os técnicos do ICV, que prestam auxílio técnico na produção, gestão e comercialização para que os agricultores tenham condições de pagar o crédito no futuro e garantir o aumento na qualidade de vida.

Implementado pelo ICV desde 2018, o Redes Socioprodutivas é um projeto financiado pelo Fundo Amazônia/BNDES que presta assessoria técnica para agricultura familiar da região.
 

PANDEMIA

A demanda por crédito rural acessível dentro da agricultura familiar é histórica, mas ganhou ainda maior importância no contexto da pandemia e pós-pandemia.

A crise sanitária e a impossibilidade de realização de encontros presenciais ainda dificultam a formulação de projetos de crédito, mas a situação marcou a importância do recurso.

Isso porque a agricultura familiar sofre uma situação de vulnerabilidade acentuada com a falta de vendas para mercados institucionais, que diminuíram com o fechamento das escolas, e a dificuldade de comercialização dos produtos nas cidades.

Ao mesmo tempo, a demanda por produtos saudáveis e locais se mostrou essencial em um contexto onde o transporte de alimentos foi seriamente impactado.

“A demanda está crescendo e a agricultura familiar precisa melhorar a oferta, precisa-se desses arranjos nas propriedades, como comprar irrigação e semente, coisas difíceis com os impactos na venda”, afirma Luan.

Liliane afirma que a procura por apoio profissional pelos pequenos produtores rurais, antes tímidas, começou a crescer.

“Há uma abertura maior e uma necessidade de apoio para produzir mais em espaço menor. A pandemia acelerou esse processo porque a demanda pelos alimentos aumento. A tendência agora é só aumentar e ao sair dessa crise, eles vão continuar a se desenvolver”, avalia.

David ressalta que o Sicredi está de portas abertas para os produtores rurais da agricultura familiar na região. “Nascemos do pequeno e queremos estreitar ainda mais esses laços, o que está sendo possível com essa nova parceria”, conclui.

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