Na manhã desta terça-feira (6), dia seguinte ao incêndio que destruiu os barracos de 103 famílias na favela dos Coelhos, na área central do Recife, moradores da área fizeram um protesto no local. Eles interditaram a rua em frente ao Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), ateando fogo a pneus.
Na noite de segunda-feira (5), a Secretaria Executiva de Defesa Civil do Recifex informou que 103 famílias foram cadastradas – 67 delas ficarão em casas de parentes e 36 foram encaminhadas para um abrigo municipal, que fica próximo à sede da agremiação Galo da Madrugada, bairro de São José, na mesma região. No entanto, a maioria das famílias preferiu ficar na Escola Municipal dos Coelhos, que é próxima do local do incêndio. A Prefeitura prometeu colchões, cestas básicas e kits de higiene pessoal, além de alimentação no próprio abrigo. Por volta das 7h da manhã, os moradores disseram que uma sopa foi distribuída no jantar, mas os kits de higiene e café da manhã ainda não haviam chegado.
“A Prefeitura tinha liberado a creche e a escola, depois proibiram de ficarem na escola e o pessoal dormiu na quadra da creche. Foi de última hora. Prometeram ontem trazer alimentos para as famílias e até agora nada”, explica o líder comunitário Clóvis Mario. A lavadeira Jaqueline Silva perdeu metade do barraco em que morava com o marido e quatro filhos. Optou por ficar na creche dos Coelhos, como outras famílias. “Trouxeram uma sopa rala e água mineral, mas depois levaram tudo. Quem doou umas frutas hoje foi um homem que chegou. Deu confusão. É fome. A gente tá com fome e não aparece ninguém da Prefeitura para dar uma satisfação”, explica Jaqueline.
Parte das famílias que perdeu as moradias no incêndio deveria ser transferida para um conjunto habitacional, cuja obras estão atrasadas há mais de quatro anos. A Secretaria de Habitação do Recife informou que o novo prazo para entregar o condomínio é em dezembro deste ano.
De acordo com a Defesa Civil do Recife, todas as famílias prejudicadas, cadastradas pela Prefeitura, vão receber kits com cesta básica e colchão. Algumas famílias foram se hospedar na casa de parentes, outras estão em abrigos cedidos pela Prefeitura e um grupo de cerca de 15 moradores, de acordo com o secretário executivo da Defesa Civil, Adalberto Freitas, quis permanecer na quadra cedida pela Secretaria de Educação. “Todas essas pessoas devem receber o material. O atendimento não será apenas hoje, será realizado de tempos em tempos. Estamos trabalhando para entregar tudo ainda nesta manhã”, disse o coronel.
A auxiliar de serviços gerais Verônica Pereira de Souza estava no Imip, onde trabalha, quando a filha de 15 anos ligou avisando que o barraco onde moram estava pegando fogo. “Eu perdi tudo. Minha filha só conseguiu salvar a bolsa de documentos e meu neto, de oito meses”, conta. Na casa viviam ainda o marido de Verônica, três filhos do casal, outro neto e um afilhado de dois anos. “A gente queria sair dali há muito tempo, são 13 anos. Passamos a noite aqui na quadra da escola com lençol doado pelo pessoal daqui. E na madrugada ainda roubaram meu celular”, afirma.
Por volta das 9h30, a Guarda Municipal chegou ao local e bloqueou a entrada da escola. A população gritava “queremos casa!” Os aposentados Gabriel Almeida e Margarida Gomes levaram panelas, roupas e mantimentos para ajudar a comunidade. “Juntamos tudo o que não usávamos e trouxemos. A gente ficou muito sensibilizado quando viu a situação, é muito duro”, explica Margarida.
Ajuda
O arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, foi à Escola Municipal dos Coelhos junto com outros representantes da Arquidiocese prestar solidariedade à população e ver que tipo de ajuda é possível conceder. “Viemos como Igreja para ouvi-los. Vamos fazer uma campanha com as paróquias para recolher donativos, comida e móveis. Vou também conversar com o prefeito [do Recife, Geraldo Julio] para buscar uma solução viável. Como ouvi aqui, R$ 150 para alugar uma casa é inconcebível. Levá-los para longe do trabalho não dá”, afirmou Dom Fernando.
Os locais para arrecadação de donativos disponibilizados pela Arquidiocese são a igreja da Boa Vista, a sede da Cúria, na Avenida Rui Barbosa e a sede do Movimento Pró-Criança, na Rua dos Coelhos.
Bombeiros
O trabalho para debelar as chamas durou 2h30. Foram gastos 120 mil litros de água para conter o fogo, que atingiu cerca de 200 casebres, segundo a corporação, com 23 viaturas e 89 pessoas na equipe. O Corpo de Bombeiros acredita que o incêndio foi causado após uma brincadeira de crianças. A área atingida tem 100 metros de largura por 20 metros de comprimento. Treze vítimas foram atendidas com problemas respiratórios ou passando mal. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) removeu dois adolesceste para a UPA do Curado, com problemas respiratórios. As equipes de resgate e atendimento pré-hospitalar trabalharam com 35 pessoas, com cinco motos e seis viaturas.
Fonte: G1