Apesar de os médicos graduados na Bolívia corresponderem a mais da metade dos inscritos, apenas um candidato com certificado de medicina obtido no país vizinho foi autorizado a exercer a profissão em território brasileiro no último processo de revalidação de diplomas estrangeiros, o Revalida, conduzido pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) no ano passado.
De acordo com a Faculdade de Ciências Médicas da instituição, 937 graduados se inscreveram no Revalida de 2012, sendo 508 com certificados de medicina assinados por instituições bolivianas, uma proporção de 54,2% dos inscritos.
Ao fim da prova, porém, apenas seis foram aprovados pela UFMT – e apenas um deles representa o contingente de candidatos com diplomas bolivianos, os quais frequentemente constituem maioria dentre as inscrições na UFMT, dada a proximidade da fronteira como principal fator.
Aprovações
Depois dos bolivianos, oriundos de mais de 12 instituições de ensino (entre públicas e privadas), os candidatos mais numerosos nos exames aplicados pela UFMT são também de países hispânicos, como Cuba, Paraguai, Argentina, Peru e a própria Espanha.
Além da disparidade entre o número de candidatos bolivianos autorizados a exercer a Medicina no Brasil e o total de aprovados, outro contraste nos números da UFMT está na aprovação geral dos últimos três anos, independente da nacionalidade do diploma.
Em 2010, quase 31% dos 594 candidatos obtiveram anuência para trabalhar no Brasil. No ano seguinte, quando a UFMT recebeu 705 inscrições de graduados no exterior, a proporção aumentou para mais de 42% – um abismo em relação ao percentual de aprovação em 2012, que não chega a 1%.
“O exame é elaborado de forma a avaliar se o candidato possui as mesmas capacidades esperadas dos nossos alunos formados no Brasil. Fazemos o exame há mais de vinte anos, tomando o cuidado em manter o nível de nossos alunos ao final do curso médico”, explicou o professor Hélio Moratelli, coordenador da Faculdades de Ciências Médicas da UFMT – uma das 25 instituições revalidadoras de diplomas estrangeiros de medicina no país e que, até agora, já recebeu mais de 800 inscrições para o exame deste ano.
‘Mais médicos’
A atuação de médicos estrangeiros no país entrou na pauta de discussões após o anúncio do governo federal do programa ‘Mais Médicos’, cujo intuito é reduzir o déficit desses profissionais no Brasil por meio de políticas de incentivo para a vinda deles a regiões carentes. Trata-se de um dos eixos da força-tarefa anunciada pela presidente Dilma Rousseff (PT) para dar fim aos gargalos na gestão da saúde.
Em Mato Grosso, 13 municípios foram apontados como prioritários para receber esses trabalhadores. Institucionalizado por meio de medida provisória, o programa Mais Médicos, porém, recebeu críticas de representantes de entidades médicas. Uma das principais críticas aponta que o governo deveria primeiro investir nas condições estruturais e de carreira para os médicos atuarem na rede pública, não forçando esforços somente em distribuir profissionais país adentro.
A presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM), Dalva Neves, já apontou, por exemplo, que a rede pública não tem conseguido manter número ideal de médicos atuando devido às condições de trabalho oferecidas, o que pode ser observado no contraste com o número de trabalhadores presentes na área privada: em Cuiabá, a rede particular conta com 7,28 médicos para cada grupo de mil habitantes; na rede pública, o número cai para 1,2.
Fonte: G1 MT