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Conheça seis “benefícios” que podem ser uma armadilha para seu bolso

economia_brasileiraConseguir um empréstimo no banco, mesmo estando com o nome sujo. Fazer um investimento e ainda ter a chance de ganhar prêmios em dinheiro. Concentrar o pagamento de todas as contas numa só data de vencimento, acumulando pontos no programa de fidelidade do cartão.

Consumidores recebem ofertas como essas todos os dias. Elas estão nos comerciais de TV, em cartas, e-mails e na conversa com o gerente do banco. Produtos e serviços financeiros que num primeiro momento parecem muito interessantes, no entanto, podem esconder muitas desvantagens.

Os grandes bancos costumam alardear, por exemplo, a possibilidade de o cliente usar o cartão de crédito para pagar contas de água, luz e telefone.

Optando pelo cartão, o consumidor concentra todas as despesas numa só data de pagamento, o que facilita o planejamento financeiro. Consegue, ainda, evitar os juros cobrados pelo atraso no pagamento da conta. E tem também a oportunidade de juntar pontos que, depois, podem ser trocados por passagens aéreas ou outros prêmios.

Custo para usar serviço chega a R$ 16

Cada conta de serviço paga por meio do cartão, porém, tem um custo que varia de R$ 3 a R$ 16, mostra uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) com seis bancos. Essa tarifa não é proibida.

Considerando-se o maior valor apurado pelo Idec, uma conta de luz de R$ 100 já subiria para R$ 116. Mas quem paga contas de serviços no cartão precisa, ainda, arcar com o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 0,38% mais 0,0082% ao dia. A quantidade de dias considerada será aquela entre a data de vencimento da conta e o pagamento da fatura do cartão.

Assim, no exemplo da conta de R$ 100, considerando-se que se passaram 30 dias entre o vencimento da conta e o do cartão, o IOF seria de R$ 0,73. A conta sairia, assim, por R$ 116,73 (R$ 100, mais a tarifa de R$ 16, mais o imposto de R$ 0,73).

É ‘ilusão’ achar que serviço beneficia consumidor

O valor é mais alto do que o que consumidor pagaria se, em vez de optar pelo cartão, simplesmente pagasse a conta de luz atrasada para a concessionária. Nesse caso, ele teria de arcar com multa de 1% e juros de mora de mais 1%. O valor da conta subiria para R$ 102.

“Isso não quer dizer que a pessoa deve pagar suas contas em atraso, até porque isso pode ter consequências, como a interrupção do serviço”, diz Ione Amorim, economista do Idec. As contas mostram, porém, que usar o cartão nesses casos é bem menos interessante do que parece. “É ilusão achar que o serviço foi criado pensando no consumidor”, afirma a economista.

A pontuação em programas de fidelidade é outro benefício que acaba não sendo tão compensador assim, declara. “A maioria das pessoas leva muito tempo para acumular pontos que geram benefícios, como troca por passagens aéreas.”

Ione Amorim diz que a maioria das concessionárias de serviços essenciais, como luz, água e telefone, permite que o consumidor escolha a data de pagamento de suas contas entre quatro opções disponíveis. Assim, se a ideia é controlar o orçamento, um bom gerenciamento dessas datas já pode ser suficiente.

Crédito para quem tem dívidas

Para a economista do Idec, consumidores da nova classe média brasileira, que só há alguns anos passaram a ter acesso ao mercado de crédito, costumam ser os mais assediados pelas instituições financeiras quando o assunto são benefícios que não são tão bons assim.

Ela cita o exemplo da oferta de empréstimos sem burocracia, muitas vezes concedidos até para quem tem o nome “sujo”. Nesse caso, o que parece vantagem pode representar o pagamento de altíssimas taxas de juros.

Segundo dados da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), a taxa média do empréstimo pessoal concedido por financeiras foi de 6,99% ao mês em julho, ou 124,97% anuais. Uma financeira que oferece crédito para quem está com o nome “sujo” chega a cobrar 19,89% ao mês, ou 781,95% ao ano, de acordo com dados do Banco Central.

“Esses produtos não ajudam o consumidor que já está num processo de endividamento, porque as taxas são extremamente elevadas”, diz Ione Amorim. “O crédito consciente deve começar na oferta. As instituições precisam oferecer crédito de forma mais responsável.”

Para o educador financeiro Mauro Calil, muitos consumidores têm vergonha de procurar as empresas ou bancos para os quais devem. As financeiras, assim, acabam oferecendo o caminho mais fácil. “As instituições exploram a fragilidade psicológica de quem tem dívidas e cobram taxas absurdas.”

Calil diz que é importante todos saberem que não existem “milagres” quando o assunto é dinheiro. Não é milagre, por exemplo, o que o banco faz ao oferecer ao cliente a possibilidade de ele usar o limite do cheque especial por dez dias sem precisar pagar juros. Isso porque quem passa desse prazo tem de pagar juros não só a partir do 11º dia, mas retroativamente, desde o 1º dia em que usou o limite.

Ou seja: se o consumidor realmente só usar os 10 dias, pode ser interessante. Mas, caso ele passe desse prazo, ou por necessidade ou porque simplesmente esqueceu-se de cobrir o saldo, terá feito um péssimo negócio. Os juros do cheque especial são de 7,77% ao mês, ou 145,46% ao ano, segundo a Anefac. Em 11 dias, seriam 2,75%.

“É só uma maneira diferente de cobrar os mesmos juros, que depois são pagos retroativamente”, diz o educador financeiro.

Capitalização ou loteria?

Da mesma forma, títulos de capitalização sempre são vendidos como investimentos que ainda dão, ao consumidor, a chance de concorrer a prêmios em dinheiro em sorteios mensais.

“Os títulos de capitalização não são investimentos. Eles têm esse nome porque servem para capitalizar a instituição, não o cliente”, afirma Calil. “A chance de ser sorteado é muito pequena. É melhor comprar um bilhete da loteria e aplicar o dinheiro em um investimento de verdade.”

A dica dos especialistas para quem se vê tentado a contratar produtos como esses é uma só: pesquisar e não ter receio de dizer “não”. “Muitos consumidores são suscetíveis a ataques emocionais, e isso é um caminho fácil para que as instituições queiram vender qualquer coisa”, afirma Calil.

Fonte: uol

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