A técnica de enfermagem do Serviço de Atendimento Móvel de Urgências (Samu) de Rubiataba, a 220 km de Goiânia, que fez o primeiro atendimento ao motorista que passou dois dias acorrentado a uma moto pelo pescoço, garante que o homem estava em estado crítico no momento do resgate. O delegado que investiga o caso, Eurípedes de Oliveira Medeiros, por sua vez, afirma que há indícios de falsa comunicação de crime.
Segundo Russley Alves, no momento em que a equipe do Samu chegou ao local onde o motorista foi encontrado, ele apresentava desidratação no estágio subagudo e estava debilitado. “Não entendi porque o médico deu um parecer totalmente diferente. Claro que, após receber os primeiros-socorros, o quadro grave de hipotermia e desidratação foi amenizado”, explicou.
No laudo, o médico Gilson Leite Sampaio, responsável pelo atendimento no Hospital de Municipal de Rubiatabax, atestou que o motorista estava com desidratação leve e ausência de lesões corporais.
“Não notamos quadro acentuado de hipotermia e ele estava em estado regular. Pode acontecer de uma pessoa ter de uma resistência diferenciada das demais, mas não me pareceu que ele tinha passado dois dias e duas noites debaixo de sol e frio, pois sem dúvidas entraria em uma estafa tremenda”, ressaltou a socorrista.
O médico garante que o homem não apresentava sinais de que estava há mais de 48 horas sem comer ou beber água. “Mas isso não quer dizer que eu contesto o laudo do Samu, que foi quem deu a primeira assistência”, concluiu Sampaio.
O delegado Eurípedes Medeiros informou que o caso é investigado, mas não deu detalhes sobre os rumos dos trabalhos. Na semana passada, ele levantou suspeita sobre a veracidade da história contada pelo motorista depois que o exame de corpo de delito, feito após o resgate, constatou que ele não tinha lesões aparentes.
Para Medeiros, a falta de ferimentos seria um indicativo de que o homem estaria mentindo. “Todo mundo sabe que passar três dias sem comer e amarrado pelo pescoço deve causar algo mais do que ‘ausência de lesões corporais’. Tudo indica que há uma falsa comunicação do crime”, afirma o delegado.
Já a família não entende por que, dez dias após o resgate, a vítima e a funcionária do Samu não foram intimados para prestar esclarecimentos sobre o caso. “Ele [delegado] que faça a investigação primeiro e depois, quando tiver provas de que meu irmão está mentindo, fale a respeito. Por enquanto queremos ação e não opinião”, disse a irmã do motorista. “De vítima, ele está passando a autor dos fatos”, finalizou.
Contestação
A versão da Polícia Civil, no entanto, também foi contestada pela Polícia Militar, que fez o resgate do motorista junto com uma equipe do Samu. Segundo os policiais militares, ele foi encontrado após arrastar a moto pelo pescoço por cerca de 15 metros, até alcançar uma mochila onde havia um celular. Com o telefone, ligou para o número de emergência da PM e pediu socorro.
O atendente do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom), Claudio Souza, que recebeu a ligação no 190, explicou que fez várias perguntas ao homem para certificar que não se tratava de um trote. O policial relatou que “pela voz, era possível perceber que ele estava bem cansado devido ao esforço”. O atendente afirma também que confirmou com os policiais de Nova Glória, cidade vizinha onde o homem vive, que ele estava desaparecido.
O caso
O motorista informou ao G1 que o assalto aconteceu na sexta-feira (5), dia em que foi deixado em um matagal. Os criminosos teriam colocaram a moto por trás dele, passaram a corrente, trancaram o cadeado e foram embora. “Pensei que eles fossem me matar”, lembra.
O homem contou que, após ser deixado sozinho, arrastou a moto pouco a pouco por cerca de 15 metros até alcançar, dois dias depois, a mochila, onde havia um celular. Foi quando ele conseguiu acionar a polícia.
Fonte: G1