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Agronegócio ainda é o setor que mais registra casos de trabalho degradante

Atividades de cultivo de soja e criação de gados têm mais da metade de flagrantes feitos pelo Ministério do Trabalho e Empreg

Fonte: Reinaldo Fernandes

A pujança do agronegócio de Mato Grosso tem em sua base crime trabalhista sofrido pelo Zé Ninguém. Os R$ 71,8 bilhões do Valor Bruto da Produção (VBP) do setor neste ano, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) até junho, foram gerados em parte por pessoas semianalfabetas, com idade mínima de 10 anos e jornada de trabalho diária que pode chegar a 15 horas, em situações análogas à escravidão.

Os Zés Ninguém não possuem apenas um perfil biográfico, mas a maioria tem no trabalho do campo o único meio de sobrevivência. As viagens para locais remotos de trabalho ocorrem geralmente em companhia de amigos ou parentes, atraídos pela promessa de ganho acima da média (em torno de R$ 2 mil) num período reduzido de tempo. A fase de plantação da soja durante 90 dias, e a de colheita, outra contagem aproximada. A produção de bovinos é um pouco mais demorada, mas o volume da renda também influencia.

Esses são os dois setores de trabalhos nos quais mais ocorrem flagrantes de “trabalho escravo contemporâneo”, e Mato Grosso, por característica de sua própria economia, aparece na ponta da lista dos estados nos País com mais casos.

Dados do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) mostram que neste ano 15 pessoas foram resgatadas de áreas de trabalho análogo à escravidão, até o final de junho. Ao longo do ano passado, foram 47. As cidades onde ocorreram os flagrantes variam – Castanheira, Paranatinga, Juara e Vila Bela, por exemplo, em atividades ligadas ao agronegócio – criação de bovinos, cultivos de soja e de cana de açúcar.

De 45 ações realizadas em 2015 pelo MTE, em dez houve flagrante de trabalho escravo e sete delas ocorreram em áreas de produção do agronegócio. Neste ano, numa única ação, o Ministério Público do Trabalho (MPT) resgatou cinco pessoas que trabalhavam na construção de cerca para pasto em Poxoréu (240 km de Cuiabá).

Uma compilação de ações resgastes do MPT mostra que, de 2008 a 2015, 1.316 trabalhadores foram resgatados em Mato Grosso em 123 operações de combate.

As situações são sempre parecidas. Um barracão de lona armado em cortes de madeira, outras peças de madeira são improvisadas para montagem de cama e prateleiras que servem para armazenagem de alimentos. Sem instalação sanitária e sem água potável para beber. Isso armado em lugar remoto, ao qual o acesso é precário.

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“A agropecuária é ainda a área que mais concentra atividades de trabalho escravo no País e, no caso, Mato Grosso, pela característica de sua economia, continua na lista dos Estados com maior número de flagrantes”, diz o procurador do trabalho, Thiago Gurjão Alves.

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