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Espécie de macaco do Parque Cristalino entra para lista internacional dos ameaçados de extinção

Um dos “moradores” mais valiosos do Parque Estadual do Cristalino, em Mato Grosso, o macaco-aranha-de-cara-branca acaba de entrar para uma triste lista: a das espécies de primatas no mundo que correm riscos de morte. Nesta quarta-feira
(31), foi divulgado o relatório Primates in Peril (Primatas em Perigo), assinado pela Sociedade Internacional de Primatologia, que recomenda atenção às possíveis ameaças ao macaco, já raramente encontrado no estado. No início de agosto, a Justiça Estadual revogou o decreto que criou o Parque Cristalino II, mas o Ministério Público do Estado de Mato Grosso recorreu da decisão. Pouco mais de uma semana, um incêndio de grandes proporções foi registrado na área, o que atesta a importância de manter o local como Unidade de Conservação.


A divulgação da lista dos 25 primatas mais ameaçados do planeta fez parte da programação do XIX Congresso Brasileiro de Primatologia, encerrado hoje (31) em Sinop (MT). O evento, organizado pela Sociedade Brasileira de Primatologia (SBP)
e apoiado pelo Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento (Formad), teve início no sábado (27), reunindo estudantes e pesquisadores do Brasil e do mundo para uma série de palestras, mesas redondas, simpósios e apresentações de trabalhos científicos.


No caso do macaco-aranha-de-cara-branca, a lista o cita entre as espécies que mesmo não estando no “top 25” correm riscos e ameaças graves em suas localidades. À época da decisão do Tribunal de Justiça de Mato Grosso (TJMT) sobre a extinção do decreto que criou o Parque do Cristalino, o biólogo e professor associado da UFMT de Sinop, conselheiro do Instituto Ecótono e presidente da SBP, Gustavo Rodrigues Canale, já havia alertado sobre os riscos de extinção da espécie.


“Logo após os incêndios no Parque, nas últimas semanas, recebemos no Hospital Veterinário da UFMT de Sinop, um macaco-aranha-de-cara-branca eletrocutado. Isto porque o fogo afugenta os animais que conseguem escapar da floresta, mas
eles acabam correndo outros riscos inerentes à urbanização. Eles usam a fiação, se aproximam das casas, além de ficarem sem alimentos, porque muitos frutos, insetos, invertebrados também são queimados nestes incêndios.”


De acordo com o relatório internacional, a redução da população desta espécie é superior a 50% nos últimos 45 anos. O cenário pode agravar-se ainda mais com a expansão de construção de hidrelétricas, barragens e rodovias, além da “savanização” de florestas amazônicas. O documento alerta que os longos intervalos entre partos (até 30 meses), além da tardia idade para reprodução destes macacos, como uns fatores que dificultam a sua recuperação.


“Ele entrou como recomendação, por sua importância mundial. É uma espécie que precisa ser conservada. A presença da fauna e de primatas é fundamental para manter a saúde das florestas. Infelizmente, estão botando fogo em nossos ativos,
no que poderia representar em recursos, como projetos de ecoturismo, por exemplo”, acrescenta Gustavo Canale, do Instituto Ecótono e Sociedade Brasileira de Primatologia.


Além do macaco-aranha-de-cara-branca, em Mato Grosso também está o zogue- zogue, classificado entre os 25 primatas mais ameaçados do mundo. No Brasil, quatro espécies entraram para a lista internacional, sendo eles: o caiarara, na Amazônia, e o bugio-ruivo e o sagui-da-terra, encontrados em porções da Mata Atlântica, no sudeste do país. 


Protesto pede proteção ambiental
Além da divulgação do relatório internacional sobre primatas ameaçados, o último dia do XIX Congresso Brasileiro de Primatologia, em Sinop, foi marcado também por um protesto exigindo mais proteção ambiental. Com cartazes e faixas, estudantes e pesquisadores se manifestaram contra o projeto que prevê a retirada de Mato Grosso da Amazônia Legal, pela possibilidade de alta do desmatamento na região e a disseminação de doenças, como a malária.


Os manifestantes também denunciaram os incêndios florestais registrados nos últimos meses em Sinop e região, ressaltando que o fogo não atinge somente os primatas estudados por eles, mas sim, toda a sociedade em volta. “Para nós, visitantes, é evidente o efeito nocivo dos incêndios na nossa saúde. Infelizmente, os moradores próximos acabam coexistindo por longos tempos com essa fumaça e impactando o seu bem estar em longo prazo, quase sem perceber. Os incêndios acabam com as reservas d’água e os fragmentos florestais, fundamentais para a conectividade das 10 populações de primatas do estado. Queremos gritar ao mundo que os incêndios são muito mais do que a queimada da mata: os bichos morrem, a
água acaba, as florestas somem, as pessoas adoecem!”, destacou a primatóloga e integrante do GT de Comunicação da SBPr, Romari Montano.


Incêndios e os primatas
O avanço do desmatamento com a perda de cobertura florestal em áreas protegidas já coloca em risco as populações de primatas, é o que alertam pesquisadores do Brasil e do exterior. O tema foi um dos assuntos discutidos no simpósio “A ameaça de incêndios florestais para populações de primatas”, durante o XIX Congresso Brasileiro de Primatologia. Entre os riscos do aumento de áreas desmatadas está o da extinção de espécies, incluindo algumas já classificadas como raras. 

Gazeta Digital

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