Um estudante cuiabano de 23 anos está desenvolvendo um projeto pioneiro no Brasil que permite a comunicação de pessoas mudas, sem qualquer movimento muscular voluntário e que só conseguem mexer os olhos. Guilherme Manfrim Siviero cursa engenharia da computação na Unilins e desenvolve um software acessível que tem o potencial de revolucionar a vida de quem se encontra em uma situação de total isolamento e privação de interação com o mundo.
O projeto foi pensado para vítimas de esclerose lateral amiotrófica, doença neurodegenerativa que ataca neurônios motores e células do sistema nervoso central, mas também pode ser usado por pacientes com sequelas de acidentes e com paralisia cerebral. “A família nunca sabe se a pessoa está com fome, com sede, não sabe nada. Esse é um jeito da pessoa se comunicar”, explica Guilherme.
O trabalho de conclusão de curso desenvolvido pelo estudante em parceria com os colegas Guilherme Buzatto de Souza e Jefferson Douglas de Mello, sob a orientação do professor doutor Carlos Eduardo Formigoni, usa aparelhos “baratos” aliados a uma tecnologia cujo valor é difícil de calcular.
Os estudantes desenvolveram um software utilizando o sistema eye tracking, no qual o usuário controla o computador com os olhos. Eles criaram uma espécie de óculos com uma webcam de alta definição, que capta o movimento ocular e transmite para a tela do computador. Também fizeram um teclado virtual no qual o usuário formula palavras e frases com os olhos para que o computador emita os sons, possibilitado uma conversa.
Para o usuário clicar em algo, basta levar o cursor com os olhos e piscar por dois segundos. Além de usar o teclado virtual para diálogos, o usuário pode navegar pela internet e usar as outras funcionalidades do computador com aparelho como mouse. Mas o foco do projeto é a comunicação. “Muitas dessas pessoas acabam sofrendo depressão por não conseguir se comunicar com ninguém”, sustenta o estudante.
A revolucionária tecnologia eye tracking já vem sendo usada há tempos em dispositivos semelhantes por empresas estrangeiras. O que torna mais relevante o trabalho desenvolvido pelos três alunos é o potencial barateamento de aparelhos dessa natureza, o que traria uma consequente popularização do dispositivo garantindo acesso para pacientes mais carentes.
Para se ter uma ideia, os valores de computadores eye tracking com essa finalidade desenvolvidos pela líder de mercado no segmento, a empresa sueca Tobii Technology, orbitam entre R$ 40 e R$ 70 mil no Brasil. Enquanto isso, o material necessário para fazer os óculos do trio de estudantes não ultrapassa o valor de R$ 200.
É claro que o preço apresentado só contabiliza o custo material usado na confecção do hardware, sem levar em consideração o trabalho intelectual aplicado na pesquisa e a tecnologia desenvolvida. “As peças são baratas, custam R$ 150, mas a tecnologia que a gente utilizou fica difícil dar um preço agora porque a gente fez muita inovação”, estima Guilherme.
“Falta só fazer uma calibragem porque o mouse ainda está meio imperfeito, não está 100% ainda. Vamos colocar alguns filtros e até um mês antes a gente quer deixar o projeto 100% porque tem um setor da Prefeitura de Lins que tem pessoas com essa doença e a gente vai tentar implementar lá pra ver se funciona, se é viável ou não”, revela.
Fonte : Olhar Direto