O intervalo da dose de reforço da vacina contra a Covid-19 cairá de seis para cinco meses para idosos, imunossuprimidos — pessoas com baixa imunidade, isto é, com câncer, HIV ou transplantadas, por exemplo — e profissionais de saúde. O anúncio será feito pelo Ministério da Saúde nesta terça-feira e foi antecipado ao GLOBO por um integrante da pasta.
Técnicos que assessoram a pasta disseram ao GLOBO, em caráter reservado, que veem os planos como positivos. O grupo tem analisado estudos que mostram a queda da proteção vacinal ao longo do tempo para subsidiar as recomendações.
Para o professor de Medicina da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Julio Croda, a redução no intervalo para idosos é uma forma de reforçar a proteção desse grupo mais vulnerável e que têm menor resposta imune à vacina, devido à imunossenescência programada:
— Tanto AstraZeneca como Pfizer, mas, principalmente, Coronavac, parece que têm diminuição da proteção a partir de 120 dias — afirma o infectologista, que pondera: — Para a população geral, apesar da perda de proteção para doença sintomática, a vacina continua protegendo contra hospitalização e óbito. Não sabemos por quanto tempo (a proteção durará) nessa população.
O encurtamento do intervalo já vigora em Minas Gerais, Natal, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, por decisão das respectivas secretarias de Saúde. No Espírito Santo, a redução já é para quatro meses e, no Guarujá (SP), para dois. Estados e municípios têm autonomia para definir os próprios cronogramas de vacinação.
Entre os pontos a serem considerados, está a disponibilidade de doses da pasta. Dados da projeção de entregas da pasta, atualizados semanalmente, indicam a entrega de 86,2 milhões de doses em novembro — sendo 21,7 milhões de AstraZeneca, 56,7 milhões de Pfizer e 7,7 milhões de Janssen.
Ainda segundo o ministério, o Brasil também deve receber 111,2 milhões em dezembro, das quais são 41,3 milhões de AstraZeneca (incluindo 5,1 milhões via Covax Facility), 17,9 milhões de Pfizer e 28,4 milhões de Janssen. Além disso, há previsão de receber outras 23,5 milhões de vacinas do consórcio global liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) no próximo mês, mas o laboratório ainda não foi divulgado.
Esses números, porém, podem mudar até o fim do ano, já que parte do quantitativo depende de confirmação dos laboratórios sobre a disponibilidade de Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) para produzir os imunizantes.
Para o novo ciclo de vacinação em 2022, a pasta decidiu usar 354 milhões de doses. O planejamento inclui uma dose de reforço para pessoas de 18 a 60 anos e duas doses (uma em cada semestre) para idosos com mais de 60 anos e imunossuprimidos, além de eventuais ampliações do público-alvo (para menores de 12 anos, por exemplo), se houver aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Conforme o anúncio feito em outubro, o critério de imunização será por idade, em ordem decrescente, sem grupos prioritários.
Melissa Duarte/O Globo