O Tiro e queda de hoje é sério, um dos mais sérios que já escrevi. Eu tomei como hábito seguir algumas páginas no Instagram de sátiras do governo. E afirmo que tenho seguido tanto páginas favoráveis como páginas contrárias ao governo atual, destas publicações extraio algumas pérolas que, confesso, só me serviam para dar risada, no máximo para moldar algum pensamento crítico. No entanto, deparei-me ontem com uma afirmativa que me deixou horrorizado.
Logo pensei, como se trata de página de sátira, “é uma fakenews”, tão comum nos dias atuais. Imagina se alguém, em sã consciência, diria a seguinte frase:
“Nós nunca tivemos muita fome, nós temos mangas nas nossas cidades…”
Tem uma doida que falou isso, chama-se Tereza Cristina, a Ministra da Agricultura do Governo Federal. Sério, fiquei chocado com a definição de “não passar fome” da “sinistra” da agricultura. Vocês vão entender, mas antes deixa eu mostrar um dado que talvez as pessoas não estejam muito atentas.
Em “sem” dias de governo, foram liberados nada mais nada menos do que 183 produtos de agrotóxicos para serem aplicados nas plantações e levados à mesa do brasileiro, alguns com altíssimo grau de risco à saúde. Cancedrígeno mesmo. Talvez, meio que “escondidinho” na fala da sinistra da agricultura esteja uma dica interessante, comer manga para fugir do envenenamento que por certo seremos expostos a partir destes venenos. Destes, 31 foram liberados exatamente no centésimo dia de governo.
Vocês vão entender a minha revolta, exponho através de uma experiência pessoal.
O ano era 1985 ou 86, o presidente era José Sarney, eu, ainda adolescente (uma criança, na verdade), morava e trabalhava na cidade de Sinop. Um dia cheguei em casa fui à geladeira velha que tinha no “meu barraco” abri e só escutei o eco. Procurei nas prateleiras (sim, não tinha guarda comidas, cômodas, essas coisas, afinal…) e não tinha um quilo de arroz sequer. Era um sábado e eu acabava de sair do trabalho. Salário, mísero, por sinal, só dali uns dias… mas eu estava com fome.
Nos fundos da minha casa tinha um pé de manga (e por sorte, um pé de mamão) de onde colhi as frutas (manga e mamão verde). Do segundo, fiz uma salada que até hoje sinto o gosto, penso que pela fome que estava, o primeiro (a manga) matou minha fome naquele dia.
E porque compartilho essa história que é minha? Simples, para que as pessoas que venham a ler saibam da violência que a sinistra da agricultura cometeu contra as pessoas que um dia na vida pelo menos (graças a Deus as minhas experiências de “fome” foram poucas) passaram algum tipo de necessidade.
A fome a que se referiu a sinistra, que disse que as pessoas do Brasil podem mata-la com manga, e que eu passei na minha adolescência, é a realidade de muitas pessoas neste Brasilzão que ela tem a obrigação de respeitar, se a fala foi brincadeira, ou como diz o chefe dela, uma “canelada” ela precisa ao menos pedir desculpas à pessoas que, como eu, não têm uma lembrança muito amigável do que é uma barriga roncando por falta do que comer.
Mas o Brasil, ao meu ver, está passando por outras fomes, fome de cultura, fome de politização (política pública, não política partidária), fome de saúde, fome de estradas, fome de humanidade, fome de empatia.