Depois de o povo sair às ruas contra a corrupção num movimento que parou o país e estremeceu a classe política, prefeitos e vereadores protestaram contra o que chamaram de descaso do Estado com os municípios mato-grossenses. E não economizaram palavras para criticar o governador Silval Barbosa (PMDB). Para chefes de Executivo e legisladores, Silval se esqueceu da época em que foi prefeito de Matupá, no Nortão, quando também se via obrigado a peregrinar de pires na mão pelo Centro Político e Administrativo em busca de recursos, e agora virou as costas para o interior.
“Tenho vergonha em ver o caminhão de limpeza derrubar sacos de lixo pelo trajeto por não ser um transporte adequado. Tenho vergonha de colocar pacientes numa van para ser atendido em outra cidade porque não posso oferecer assistência médica eficiente”, desabafou o prefeito de Denise, Pedro Tercy Barbosa (PSD), município localizado no sudoeste mato-grossense, com receita de R$800 mil e inúmeras deficiências no atendimento ao cidadão.
Tercy, que ainda reclamou dos atrasos nos repasses de saúde, pede ao governador Silval que olhe para os municípios pobres “como se ele ainda fosse prefeito de Matupá e viesse atrás de recursos que lhe eram negados”.
Muito contundente no desabafo, o prefeito cobrou que Silval “abra as portas não só para os municípios-elites e sim para todos. O cidadão do MT precisa de saúde, precisa de educação, precisa de emprego, precisa de renda”.
Na mesma linha, o prefeito de Nortelândia (250 km de Cuiabá), Neurilan Fraga (PSD), destacou a dificuldade em falar com Silval e seus secretários. “Há três anos espero uma indústria de calcário que quer se instalar na minha cidade e o governo não está sendo nosso parceiro”.
Fraga denunciou o caos na saúde, falta de qualidade na educação, as estradas e pontes em situação de calamidade, tudo, segundo ele, por omissão dos governos estadual e federal. Para o prefeito, além do governo, a Assembleia Legislativa não tem atendido as necessidades dos cidadãos ao aprovar leis que vão na contramão do que os municípios precisam.
O gestor reclamou da aprovação dos desvios de finalidade do Fundo de Transporte e Habitação (Fethab) e da prorrogação por mais 10 anos da concessão dos incentivos fiscais. “O governo precisa ser parceiro no transporte, saúde e educação. Não aguentamos mais tanta cobrança do cidadão que bate à nossa porta sem saber quem é o responsável pelo serviço”.
Prefeito de Juscimeira (160 km da capital) e presidente da Associação Mato-grossense dos Municípios (AMM), Valdecir Luiz Colle (PSD) – o Chiquinho do Posto – presidiu a reunião-protesto com prefeitos e vereadores cobrando a tríade Educação, Saúde e reformulação das cotas do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS).
Com muita veemência, o presidente cobrou do Governador Silval Barbosa que voltasse a discutir os repasses atrasados da saúde, revisse convênios com hospitais do interior e que houvesse a distribuição do Fethab entre os municípios para suprir as necessidades das estradas vicinais. “É preciso cobrar da Assembleia Legislativa que reveja a lei da saúde e crie emenda para voltar aos recursos de 2012”.
O presidente reclamou dos R$ 0,30 por aluno para merenda escolar, do custo de uma unidade de saúde que chega a R$ 30 mil enquanto recebem apenas de 7 a 11 mil reais da Secretaria de Saúde. “Há desigualdades municipais e não regionais. Há municípios fortalecidos pelas indústrias e agronegócio e outros pobres, sem recursos e alguns só sobrevivendo com recursos do ICMS. Daí pedimos que os pobres recebam mais e os ricos [municípios] contribuam com esses pequenos”, sugeriu o prefeito, cobrando uma negociação direta com o governador para melhorar o atendimento nos município. “Queremos discutir a situação das cidades e que o Estado fiscalize com mais rigor os recursos do ICMS, Fethab e da saúde”.
Fonte: Rita Anibal e Camila Ribeiro / Nativa News
Foto: Diego Fredericci