Acompanhada de dois filhos adolescentes, a enfermeira Jeanie Pretorius acompanhava a vigília em frente ao hospital onde está internado o ex-presidente sul-africano Nelson Mandela, em Pretória, com ar preocupado.
“Todo mundo está um pouco assustado com o futuro deste país. Há muita gente por aí fazendo o discurso do ódio contra nós”, diz Pretorius, parte da minoria branca que perfaz 10% da população e um dia governou o país à frente do regime do apartheid (segregação racial).
Como a maioria dos brancos de hoje, ela é admiradora de Mandela, a quem credita por uma transição política pacífica e sem vingança quando chegou ao poder, em 1994. Daí vem o medo de que, quando o ex-presidente se for, o caminho esteja aberto para uma onda de violência.
“Temos recebido muitos telefonemas preocupados. Fala-se de uma ‘noite dos longos punhais’, de um ‘genocídio branco'”, diz Ernst Roets, vice-diretor do Afriforum, ONG que defende direitos dos brancos (a maioria descendentes de holandeses).
A resposta de Roets aos telefonemas aflitos é padrão: na África do Sul de hoje, não há espaço para onda de violência racial, embora ameaças em redes sociais sejam levadas a sério pela organização. “Mas me preocupa o longo prazo. Quanto mais distantes ficamos da era Mandela, mais agressivo fica o discurso do governo contra os brancos”, declara Roets.
Por mais improvável que um cenário de violência se materialize, a preocupação revela como ainda é imperfeita a harmonia racial no país. O clima de incerteza já se alastrou o suficiente para o governo se pronunciar oficialmente sobre o tema.
Há também o temor de que, sem Mandela, elementos mais à esquerda no governo ganhem espaço e forcem políticas intervencionistas e a estatização do setor minerador, o ganha-pão da economia. A equipe econômica veio a público para negar essa possibilidade, antes que investidores se assustassem.
Fonte: www.leialucas.com.br